Arquivo da Categoria ‘De 1500 a 1600’
DESGRAÇA
D. Paio de Noronha, que havia defendido muito mal a praça que comandava, tocou um dia casualmente com a espada na perna do rei D. João III; porém este lhe disse de imediato:
– Na verdade é uma desgraça, pois sou o primeiro a quem feris com vossa espada.
GALINHA NÃO É FORTALEZA
Adém, cidade situada à entrada do Mar Vermelho, era um centro comercial dos portugueses na Ásia. Em 1538 a cidade foi conquistada pelos turcos, com fraca resistência dos portugueses. O governador da cidade, D. Paio de Noronha, teve no episódio, segundo a opinião de muitos, um comportamento desonroso.
Anos depois, uma mulher se lamentava dos criados desse fidalgo não devolverem uma galinha, que se juntara às dele. O que levou um seu vizinho a dizer maldosamente:
– Se fosse a fortaleza de Adém, decerto a largaria mais facilmente…
VINHOS…
Um homem que tinha um convidado à mesa, lhe enchia a taça com vinho mau, enquanto que servia-se do bom.
– Vale mais – disse o convidado – cheirar a vossa taça, que beber da minha!
ASSUNTO DOMÉSTICO
Um sábio estudava em seu gabinete, quando entrou com estrépito um criado e lhe disse:
– Senhor! A casa está em chamas!
– A casa! – replicou mal-humorado o sábio – coisas da casa acerte com a minha mulher; já vos disse que não quero saber nada de assuntos domésticos!
AUSENTES
Um homem, ao ser procurado em casa, por um seu amigo, mandou a criada dizer que ele não estava. Porém, o visitante percebeu o estratagema.
Tempos depois, foi o primeiro na casa deste último, que da janela o vira aproximar-se, e que lhe respondeu, por trás da porta, não se achar em casa.
– E então, não conheço a tua voz? – protestou o outro.
Retrucou-lhe o dono da casa:
– És mesmo despudorado. Ao procurar-te, há dias, dei crédito à tua criada de não estares em casa. E dizendo-te a mesma coisa, não acreditas em mim, em pessoa?!
MILAGRE SUSPENSO
Certo monge, tamanhos e tantos milagres fazia, que se tornou motivo de escândalo, determinando-lhe por fim o seu Superior, como medida de humildade, deixasse de utilizar-se de tão invejável atributo.
Um dia ele entrou esbaforido no convento e relatou ao seu Superior que, passando pela rua, vira um operário que, enlevado em contemplá-lo, despencara de um telhado.
Inquiriu-lhe o Superior:
– E vós, o que fizestes?
– Para não desobedecer-vos, fazendo um milagre para salvar o operário, ordenei a este ficasse no ar até segunda ordem, e corri para pedir-vos o consentimento para concluir o milagre inacabado…