Arquivo da Categoria ‘De 1700 a 1800’

MATERIALISTA

Um sujeito que havia escrito mil absurdos para provar que não temos alma, perguntou a uma senhora, com ar de triunfo, o que é que opinava sobre sua filosofia; ao que ela respondeu:

– Me parece, meu Senhor, que vós empregastes muito tempo, talento e habilidade, para provar que vós sois uma besta.

DIAMANTES FALSOS

Um nobre havia perdido no jogo uma grande soma de dinheiro, e não tendo bastante em caixa para pagá-la, deitou mão nas jóias de sua esposa e as levou a um agiota, pedindo por elas uma fração do preço que lhes haviam custado. Porém, como não queria que a Senhora sentisse falta desse adorno; disse ao usurário:

– Desmonte estes adereços, numere as pedras; fique com elas e ponha umas falsas em seu lugar, porque a Senhora não as distinguirá.

– Já chegais tarde, meu Senhor – respondeu o onzeneiro. – Estas pedras são falsas, havendo já comprado eu as legítimas de Vossa esposa, o ano passado.

MÁGOA DO JOGADOR

Foi um dia confessar-se um jogador, e depois de haver-se acusado do muito que o dominava essa maldita paixão, o confessor o admoestou com veemência que deixasse um vício que trazia tanto desassossego e tão más conseqüências. E entre outras coisas não deixou de inculcar-lhe o prejudicial que era a perda de tempo.

– Isso sim, padre, – interrompeu-lhe o jogador – isso é o que me incomoda sobremaneira! Que se perca tanto tempo para embaralhar as cartas!

GUARDA-COSTAS

Um espanhol, que se achava numa cidade da Itália, criticou acerbamente os italianos por não terem o hábito de dizer “vá com Deus”, a quem sai para a rua. Desagradou o assunto a um florentino que o ouviu, e que era pouco piedoso, e disse ao espanhol:

– Deus não necessita de companhia neste país, porque está em terra de amigos.

RONCO UNÂNIME

Disseram a um homem, que ele havia perdido um pleito por unanimidade de voto. E ele replicou:

– Perdi por unanimidade de sonho, porque todos os juízes roncavam quando se proferiu a sentença.

FILHO DA MÃE

Um janota disse a certa dama alegre, muito cheia de jóias e enfeites:

– Minha senhora; sejamos claros: não é essa ostentação o fruto de vossa vida galante?

E ela lhe respondeu, sorridente:

– Jesus, filho meu! Crês que estás falando com a tua mãe?