COMO UMA ESPADA

Ao tempo da Campanha Abolicionista, coube a Luís Murat proferir uma conferência a favor dos escravos, no Teatro São Luís, no Rio de Janeiro.

Murat, habitualmente prolixo, arrastou-se por mais de uma hora em tom monótono. A platéia, ainda que simpática à causa, já não agüentava mais. Uns bufavam, outros se mexiam impacientes nas cadeiras, alguns batiam palmas fora de hora, e outros ainda resolveram ir embora.

O palestrante, porém, não se dava por achado. Até que, de repente, ouvem-se gritos de protesto partindo das torrinhas:

– Não é verdade!… Não é verdade!… Isso não é verdade!…

Todos os olhares da platéia voltaram-se para lá. E um senhor robusto, partidário de Murat, interrogou, exaltado:

– Que é que não é verdade?!

E o autor do protesto, um estudante gaiato, levantando-se e, apontando para um velhote de cenho franzido ao seu lado, disse:

– Este cavalheiro está dizendo que o orador é sumamente cacete! E eu respondi que não é verdade!

Uma onda de gargalhadas tomou conta do teatro! Não houve mais clima para continuar, e Murat deu a conferência por encerrada.