PARENTESCO

No Brasil do século XIX, quem tinha algum sangue africano nas veias, era chamado “bode”.

Certa vez, numa audiência, o grande advogado e jornalista mulato Luiz Gama, teve a necessidade de ouvir o Brigadeiro Carneiro Leão, homem orgulhoso de sua aristocrática ascendência e do seu brasão. A certa altura, Luiz gama interrompeu o depoente para esclarecer um ponto, da seguinte forma:

– Então, o primo afirma que viu…

– Quem é o primo? – indagou o Brigadeiro, estupefato diante daquela falta de respeito.

– O senhor naturalmente – insistiu Gama.

– Mas, primo de quem? – perguntou o Brigadeiro.

– Ora, meu, de certo.

– Seu primo?! – explodiu o fidalgo num assomo de cólera. – Mas, baseado em que parentesco?

– Homessa! – retorquiu risonho Luiz Gama. – Eu sempre ouvi dizer que bode e carneiro são parentes. E parentes chegados.