NO MESMO TOM
O poeta Nunes Cascais, trabalhando na Secretaria da Província do Maranhão, tinha entre suas atribuições arrumar o expediente que o Presidente do Estado, Antônio da Costa Ferreira (mais tarde Barão de Pindaré e Senador do Império), tinha que assinar.
Certa tarde deu-se conta de que antes de Costa Ferreira, homem enérgico e autoritário, dois outros Costas tinham exercido a presidência do Estado: Costa Barros, que avançara no erário público em proveito pessoal, e Costa Pinto, que deixara um renome de preguiçoso e boa-vida. Sentiu bulir-lhe a inspiração satírica e, sentando-se à mesa, escreveu, em letra bem legível, numa larga folha de papel:
Costa Barros foi ladrão,
Costa Pinto foi pachá,
Costa Ferreira é tirano,
Que mais costa aqui virá?
Depois enfiou aquela folha atrevida entre os papéis do expediente.
Costa Ferreira, ao assinar a papelada oficial, espantou-se com a presença daqueles versos ferinos. Leu, tornou a ler – e reconheceu na letra a veia satírica do subalterno. Em seguida, com a mesma displicência com que apunha a sua assinatura aos despachos, acrescentou mais dois versos à quadra de Nunes Cascais:
Na dúvida deve o poeta
Sair daqui desde já.
E assinou-lhe a demissão.