OUTRO MALANDRO

Um padre passava todas as noites junto ao tapete verde da roleta, e o jogo se lhe insinuara de tal forma no espírito, que parecia obsessão.

Certa manhã, após uma noitada de azar negro, o padre estava a rezar missa; porém as suas idéias não saíam da roleta; na cachola girava-lhe incessantemente uma bolinha de marfim estonteada a cabriolar doidamente, indicando grandes números pretos e encarnados.

Em um dominus vobiscum, o sacerdote sonolento, equivocando-se, proferiu com toda a unção religiosa:

– Número vinte e sete!

O sacrista, gente da mesma estola, também vítima da roleta, respondeu no mesmo tom, de mãos postas e cabeça baixa:

– Trinta e cinco fichas!