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O MÁXIMO DE ROUPA

Certo rei, andando de carruagem num dia de inverno rigoroso, viu um provinciano caminhando muito sossegadamente, vestido com roupa de verão. O Monarca mandou o cocheiro parar, e perguntou ao tal sujeito:

– Como não tens frio com tão pouco pano? Quando eu, em coche fechado, carregado de abrigos e cobertores, ainda assim estou gelado?

– Senhor, – respondeu o homem – se Vossa Majestade fizesse o que eu faço, não teria frio. Eu levo sobre mim toda a roupa que tenho; imite-me Vossa Majestade e sentirá calor.

GUARDA-COSTAS

Um espanhol, que se achava numa cidade da Itália, criticou acerbamente os italianos por não terem o hábito de dizer “vá com Deus”, a quem sai para a rua. Desagradou o assunto a um florentino que o ouviu, e que era pouco piedoso, e disse ao espanhol:

– Deus não necessita de companhia neste país, porque está em terra de amigos.

RONCO UNÂNIME

Disseram a um homem, que ele havia perdido um pleito por unanimidade de voto. E ele replicou:

– Perdi por unanimidade de sonho, porque todos os juízes roncavam quando se proferiu a sentença.

MÁS INTENÇÕES

Certo militar graduado, que acabava de chegar a Palácio, para trazer ao seu Monarca uma notícia gloriosa de seu exército, entrou com botas e esporas, descabelado e coberto da poeira do caminho. Encontrou-se com dois palacianos, que lhe disseram:

– Olhais como vindes; que pareceis um cavalariço.

– Sim, meus senhores – lhes respondeu casualmente – e disposto a encilhá-los.

FILHO DA MÃE

Um janota disse a certa dama alegre, muito cheia de jóias e enfeites:

– Minha senhora; sejamos claros: não é essa ostentação o fruto de vossa vida galante?

E ela lhe respondeu, sorridente:

– Jesus, filho meu! Crês que estás falando com a tua mãe?

A LANTERNA DO CÉGO

Uma noite escuríssima ia um cego pelas ruas com um luz na mão, e um cântaro de água ao ombro. Perguntou-lhe um dos que passavam:

– Tolo, de que serve essa luz? Não é para ti o mesmo a noite que o dia?

Respondeu o cego, rindo-se:

– Não levo a luz para alumiar-me, senão para que um imprudente, como tu, não me dê um esbarrão e me derrube o cântaro no chão.