Arquivo por autor
DE ONDE TIRAR?
No Brasil Colônia os devedores firmaram a doutrina do calote, nesta breve sentença transmitida de pais a filhos: “Onde não há, El-rei perde”. Queria isto dizer que, quando a Real Fazenda mandava apertar o crânio – o crânio e a bolsa – aos contribuintes em atraso, nem cadeia, nem pelourinho, nem açoite, nem degredo, nada disso fazia entrar para o tesouro Del-rei os impostos sonegados.
CARIOQUISMOS
Um certo senhor J. M. P. S, publicou suas memórias em Portugal, onde descreve a vida na cidade do Rio de Janeiro no século XVIII. Quanto às ruas, diz ele que são muito direitas, exceto a Rua Direita, que é bastante torta. Outras ruas importantes são a Rua da Praia do Peixe (onde não se vende peixe), a do Ouvidor, e a da Quitanda; a da Vila, que não tem casas de moradia, apenas lojas… A Rua Direita chega até a praia, onde há um grande cais de madeira, coberta com um telhado , a que os locais dão o nome de Ponte da Alfândega…
Dentre todas, chama a atenção a rua chamada Soçocusarará, cujo nome deriva de certo homem que ali morou, com tal chaga no traseiro que todos lhe perguntavam: “Sr., o seu c… sarará?”
DA VIDA MANSA
Os cariocas de seu tempo, segundo relata o senhor J. M. P. S. em seu livro, “são inimigos do trabalho que muitos poucos se vê aprenderem ofício e menos aplicados ao comércio (…) São, contudo, ativos e aptos para tudo quanto se aplicam, que é quase geral ser para doutores em medicina e leis, frades, clérigos e soldados. As fêmeas tem muito juízo,” – diz ele – “por que preferem o casar com filho de Portugal, sem ter vintém, ao do seu compatriota com milhões (…)”
PATUÁ BRASILEIRO
O referido senhor J. M. P. S. critica a maneira como os cariocas falavam: “O vício na fala é nos nomes seguintes: Para dizerem milho dizem mio; para melhor dizem mió; para pior pió; para telha dizem teia; para telhado dizem teiado; para melhorar dizem miorá, etc… etc., etc., etc.”
DEVIA PRENDER A SI MESMO!
Existia na cidade do Porto um cidadão mantido pela câmara com obrigação de agarrar os vadios e pô-los a trabalhar.
Porém, D. João III ficou sabendo que o tal cidadão passava os dias nas tabernas, confraternizando com os que deveria prender, comendo assim o mantimento sem trabalhar, e mandou sindicar da vadiagem deste “terror dos vadios”.
PECHINCHA
Dizia um pai de família muito seriamente:
– Cada dia as coisas se põe mais caras; tudo custa um dinheirão!
– Não creia vosmecê, vizinho. Tome vosmecê este jornal e verá que aqui na Corte, por sete reais que ele trazia, deram num homem treze punhaladas.