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GRANDE SEDE

Perguntaram a um inútil que passava os dias nas bodegas em deboches e beberagens: se Deus te desse a escolher três coisas neste mundo, o que pedirias?

O borracho empinou a cabeça, e com viva mirada e grato sorriso, disse:

– Lhe pediria todo o vinho do mundo; todo, todo.

– E depois?

– Depois, – disse o imprestável sujeito – depois, todas as mulheres do mundo.

– E depois?

– Depois… – disse ele, coçando a cabeça e olhando para o teto como se buscasse algo – …depois, vamos, mais um pouquinho de vinho.

PROVA DE QUE TINHA

Numa batalha, um valente soldado português foi ferido na cabeça, por um tiro de mosquetão. Ao prestarem-lhe os primeiros socorros os médicos lhe disseram que a ferida era perigosa, pois lhe apareciam os miolos, e ele rindo replicou:

– Pois colham um pouquinho e enviem ao meu sogro, que vive dizendo que eu não tenho miolos.

COM A ESCASSEZ DE LENHA

Estando em Amsterdam o poeta judeu-português Antônio Enriquez Gomez, acercou-se dele um seu conhecido e lhe disse:

– Senhor Enriquez, a Inquisição de Sevilha queimou a vossa efígie, e eu vi.

– Pois se a tivessem dado a mim, eu mesmo a teria queimado! – respondeu com uma grande risada, o bizarro judaizante.

BAIXAR

Era uma época de crise alimentícia.

A vizinha do primeiro andar trabalhava à janela. O padeiro a observava desde o pátio, e perguntou-lhe:

– Vizinha, quando vossa mercê baixará esses olhinhos?

– Quando vossa mercê baixar o pãozinho.

TAMBÉM O CONTRÁRIO

Certo clérigo perdeu muitas boas rendas eclesiásticas por ser incapaz de portar-se condignamente, devido ao seu pouco siso.

Foi um dia com um amigo a uma exposição, onde se encontrava à venda um magnífico quadro do Juízo Final, e vendo o padre que, pelo seu preço muito elevado não podia comprá-lo, exclamou:  

– Oh! Que Juízo eu perco por falta de dinheiro!

E replicou o outro:

– Bem poderias dizer: Oh! Que dinheiro eu perco por falta de juízo!

PARA ALGO SERVIAM

Porfiavam um arrieiro e um estalajadeiro sobre uns fardos que faltaram na posada, e disse aquele:

– Por mais que te desagrade, terás que dar-me os dois fardos.

– Eu te darei duas guampas! – replicou o outro.

– Eu já imaginava que para algo tu as usava. – exclamou o arrieiro.