Arquivo da Categoria ‘De 1500 a 1600’
NÃO MUDARAM NADA
Indo um barbeiro mui falador fazer pela primeira vez a barba do rei, e vendo que este não falava, lhe disse:
– Senhor, barbeio de diversos modos; como quereis que vos barbeie?
– Calado. – respondeu o rei.
QUASE!
Um comerciante que tinha fama de ser muito sovina quis adestrar o seu burro para que ele perdesse o hábito de comer. Ao morrer-lhe o animal, ele se lamenta:
– Que lástima, justamente quando tinha aprendido a não comer, ele morreu!
O REI NÃO ERA BOBO
Um espertalhão, que se gabava de ter achado o segredo de fazer ouro, requeria ao Rei uma recompensa. O Rei, protetor das Artes e Ciências, pareceu concordar com o pedido, e já o charlatão estava certo de que tinha alcançado a mais sólida fortuna. Apertou pela recompensa, e o Rei mandou dar-lhe uma grande bolsa, dizendo:
– Visto que ele sabe fazer o ouro, não carece mais do que de lugar onde o guardar.
ENTRADAS E SAÍDAS
Em Lisboa no século XIV, era eleito anualmente um cidadão que chamavam pai dos meninos, para tratar da criação dos órfãos e enjeitados. Certa ocasião, esse administrador, em poucos meses, tinha gasto toda a verba anual das crianças, obrigando-o a requerer uma suplementação. O presidente do Conselho da cidade ordenou-lhe então que apresentasse o livro de registro de “Entradas e Saídas”, para explicar o gasto do dinheiro.
O pai dos meninos – que era homem rústico, analfabeto e de poucas palavras – então mandou vir uma das suas crianças e, apontando-lhe para a boca, disse: “Por aqui o dinheiro entrou…”; depois apontando para o traseiro do pequeno, disse: “E por aqui ele saiu…”
BRINCANDO DE DEUS
Certo dia ensolarado, um homem que arava um campo, parou numa sombra para descansar. Vendo no céu voando os pardais, e as vacas presas no pasto, pôs-se a filosofar:
– Está tudo errado! Onde já se viu pardal, que é tão pequeno e inútil, ter toda essa imensidão para voar? E a vaca, tão grande e tão útil para o homem, a arrastar seu corpanzil dentro de um pasto cercado? Está errado! A vaca é que devia voar!
Nisto, sentiu algo na cabeça e, passando a mão, verificou que um pardal lhe “sujara “. E, caindo em si, considerou:
– Não… Nosso Senhor está certo… Graças a Deus que as vacas não voam!
NÃO TENHO CERTEZA
Um homem encontrou na rua um conhecido a quem não via há bastante tempo, e exclamou:
– O meu amigo por aqui! Mas que surpresa esta! Tinham-me dito que morrera.
– Como podes ver estou vivo, e bem vivo!
– Pode ser, pode ser… Mas olhe que quem me o disse é pessoa de todo o crédito!…