Arquivo da Categoria ‘De 1500 a 1600’
FRIO
Um homem, condenado à fogueira pelo Santo Ofício, conseguiu escapar das mãos de seus carrascos. Não podendo fazer outra coisa, o queimaram em efígie. Naquele mesmo dia exatamente, atravessou o fugitivo uma das mais altas montanhas dos Pirineus; e depois dizia:
– Nunca tive mais frio, que no dia em que me queimaram na fogueira.
BOA MULHER
Estando um enfermo em artigo de morte, percebeu que alguém batia à porta, e mandou que um de seus servos visse quem era, e o servo replicou que era uma senhora chamada Maria Santíssima. Então o moribundo ergueu as mãos ao céu e agradeceu a Deus em alta voz; depois ordenou ao servo que a fizesse entrar sem demora, para que ele pudesse ver uma boa mulher antes de morrer, porque em toda a sua vida nunca conhecera nenhuma.
O ALEGRE HOMEM GORDO
Um homem era excepcionalmente obeso; tanto que ele não conseguia enxergar a parte de baixo do seu corpo, encoberta pela pança. Urinando em plena rua um dia, um garoto parou para olhá-lo. O homem disse ao menino:
– Se podes vê-lo, dê-lhe saudações de minha parte; que ha dez anos não o tenho visto.
ANTISEMITISMO
Quando os reis da Espanha, Fernando e Isabel, expulsaram os judeus de seu país, deram-lhes apenas o espaço de quatro meses para a saída. Muitos deles solicitaram e obtiveram a permissão de entrarem em Portugal, pela extensão da fronteira e facilidade de trânsito, que lhes proporcionava mais pronto e acessível refúgio.
Contava uma anedota (apócrifa, maldosa e preconceituosa) da época, que os comissários, por eles enviados a Portugal teriam escrito que deviam vir porque a água já era deles (o comércio marítimo), a terra boa e os habitantes parvos; que o resto em breve deles seria também.
PROPAGANDA ENGANOSA
O papa Leão X, que era leigo, instituiu tão escandaloso comércio de indulgências, fazendo-o com tal desembaraço e cinismo, que os religiosos Dominicanos que promoviam sua venda, chegavam a pregar ser tamanho o poder das indulgências que mesmo que alguém pudesse espoliar e decapitar Jesus Cristo, ou até mesmo estuprar a Virgem Maria, seria perdoado!
PUXÃO DE ORELHA
No século XVI, era tamanha a falta de compostura das fiéis nas igrejas, que um pregador disse num sermão: Ó mulheres, que vergonha a vossa, quando, pela manhã, enquanto digo a missa, fazeis tal barulhada que bem me parece ouvir uma multidão de gansos – tanto gritais! Uma diz: ó Joana! Outra chama: Catarina! E outra: Francisca! Oh, que bela devoção vossa ao ouvirdes a missa! Quanto a mim, mais me parece uma algazarra sem a menor devoção e reverência!