Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

CASCOS DO CÔNEGO

Queixando-se uma senhora de que há muito tempo não o via, disse-lhe o cônego Filipe:

– É porque a senhora não quer. Todos os dias passo pela sua rua, e quando ouvir o tic-tac do andar de um burrinho, pode dizer: – Lá vai o cônego Filipe.

DE LEÃO

Enviaram ao cônego Filipe um ovo de ema. Ao recebê-lo exclamou:

– Que ovo tão grande!

– É de ema, Senhor Cônego – disse o portador.

– Qual de ema! Isto é ovo de leão! – replicou o padre.

SÓ ASSIM

Discutia-se numa reunião, se o cavalheiro fulano tinha ou não saído par do Reino, na última fornada. Um par antigo, conhecido pelos seus ditos, entrou neste momento.

– Aqui está quem nos pode tirar as dúvidas – exclamou um. – Fulano é par, senhor conde?

– É, sim – respondeu o fidalgo – quando anda a cavalo!

QUANDO PASSAR

Encontrando de madrugada uma patrulha a certo indivíduo olhando atentamente para as casas, e o cabo desconfiando de que fosse um ladrão, quando não passava de um bêbado, perguntou-lhe o que fazia ali.

– Eu, meus senhores? Eu moro no fim desta rua, e como estou a ver passar todas casas, estou a espera de que a minha passe também, e assim que a vir… Zás, meto-me dentro.

EXPLICADO

Um abade muito desmemoriado, que, quando pregava, costumava esquecer-se do sermão e ficar mudo por muito tempo, mandou-se retratar. O retrato ficou tão fiel ao original que todos, ao vê-lo, exclamavam:

– Só falta falar!.

O que ocasionou dizer certo ratão:

– É sim; é que foi feito quando sua reverendíssima estava a pregar!…

FOGUETE

Tinha um sujeito por criado um galego lorpa e dos mais moles. Mandando-o um dia fazer recado com toda a pressa, chegou à janela para ver como desempenhava a ordem: ia o bruto com o seu passinho miúdo.

 – Ô maroto, tu não tens outro passo?

– Ai, tenho sim senhor, mas o outro ainda é mais curto.