Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’
ALTERNATIVAS
Uma caricatura de autoria de Belmiro Barbosa, de 1881, mostra um cavalheiro elegante e fino, de joelhos no chão, implorando aos céus: “Meu Deus, fazei com que eu não me case!” – “E, se casar, que minha mulher não me engane.” – “E, se ela me enganar, que eu não saiba.” – “E, se eu souber, que não me importe com isso.”
NO MESMO TOM
O poeta Nunes Cascais, trabalhando na Secretaria da Província do Maranhão, tinha entre suas atribuições arrumar o expediente que o Presidente do Estado, Antônio da Costa Ferreira (mais tarde Barão de Pindaré e Senador do Império), tinha que assinar.
Certa tarde deu-se conta de que antes de Costa Ferreira, homem enérgico e autoritário, dois outros Costas tinham exercido a presidência do Estado: Costa Barros, que avançara no erário público em proveito pessoal, e Costa Pinto, que deixara um renome de preguiçoso e boa-vida. Sentiu bulir-lhe a inspiração satírica e, sentando-se à mesa, escreveu, em letra bem legível, numa larga folha de papel:
Costa Barros foi ladrão,
Costa Pinto foi pachá,
Costa Ferreira é tirano,
Que mais costa aqui virá?
Depois enfiou aquela folha atrevida entre os papéis do expediente.
Costa Ferreira, ao assinar a papelada oficial, espantou-se com a presença daqueles versos ferinos. Leu, tornou a ler – e reconheceu na letra a veia satírica do subalterno. Em seguida, com a mesma displicência com que apunha a sua assinatura aos despachos, acrescentou mais dois versos à quadra de Nunes Cascais:
Na dúvida deve o poeta
Sair daqui desde já.
E assinou-lhe a demissão.
EM TINA
O poeta Laurindo Rabelo, por ser mulato, muito magro e de movimentos nervosos, ganhou o apelido de Poeta Lagartixa. Uma ocasião travou este diálogo com certa moça que lhe perguntou:
– O senhor é o Poeta Lagartixa?
– Sim. Como é a sua graça?
– Florentina.
– Já vi muita flor em vaso, mas flor em tina é a primeira.
POUCO CAPIM
Laurindo Rabelo estava em uma esquina da Rua do Ouvidor e passou uma senhora magra, mas bonita, trajando um vestido verde. Um sujeito metido a espirituoso, e que se achava ao lado, exclamou:
– Que pena! Tanta alface para tão pouca carne!
– Pois, olhe, eu não acho, – declarou Laurindo, voltando-se para o indivíduo. – O que parece é que há ali pouco capim para um burro do seu tamanho!
NEM DOS ENXUTOS
Uma ocasião Laurindo Rabelo desentendeu-se com o velho e rabugento conselheiro Mariano Carlos de Sousa Correia, seu chefe no Corpo de Saúde do Exército. O conselheiro tinha o apelido de “Rato Molhado”, pela forma como ajeitava os raros farrapos de cabelo grisalho sobre a calva.
O velho conselheiro, furioso, repreendeu Laurindo; ao que este, empavonando-se, carregando o sobrolho e disparando arrebatado, exclamou:
– Ora, nunca fiz caso de ratos enxutos, quanto mais de ratos molhados!
SI NON É VERO…
Capistrano de Abreu costumava contar como ele, simples redator da Gazeta de Notícias, proclamara a República, em 15 de novembro de 1889. Já havia um movimento agitador nesse sentido – Benjamim e Quintino não escondiam sua oposição ao Imperador; Deodoro, o chefe da insurreição, se opunha abertamente ao Ministério. Mas ficavam no sai, não sai. Havia indecisão, temor… uns esperando pelos outros. O povo sabia que a coisa estava por estourar.
Capistrano encheu-se! Tomou o giz e, no quadro negro da porta da redação, escreveu, por sua conta e risco: Proclamada a República. A multidão quer passava pela Rua do Ouvidor parava, lia, e seguia comentando e espalhando. “Estava” proclamada a República… Os interessados vieram a saber. Proclamara-se a república.