Arquivo da Categoria ‘De 1800 a 1900’

PARA PAISANOS

Um coronel levou um dia para seu camarote no teatro, o seu ordenança, que nunca tinha visto ópera. No fim do espetáculo (representava-se o Othelo), perguntou ao praça:

– Ó 98, que te pareceu?

– Saberá vossa senhoria, meu comandante, que para paisanos até que não se saíram lá muito mal.

LUVAS

Era num daqueles bailes de meia tigela, onde tanta desenvoltura e alegria reina, e que principalmente se compõe de costureiras e estudantes, capelistas e caixeiros.

Chega-se um estudante folgazão a uma das mais dengosas daquelas senhoras, e convida-a para dançar.

– O senhor, – lhe responde ela com ar de desdém – esqueceu-se de trazer luvas.

– Não tem dúvida, minha senhora, – acudiu ele no mesmo instante – eu costumo no fim de cada contradança lavar as mãos.

BANQUETE

Um grande comilão relatava a um amigo um banquete de uns seis pratos, de que participara:

– Nos foi servido um peru recheado enorme; delicioso, gordo, suculento. Com ricos acompanhamentos. O melhor peru que já comi na vida! Tão bom que não deixamos senão os ossinhos, e esses mesmo muito bem chuchados.

– E, – perguntou o amigo – quantos eram os comensais à mesa?

– Apenas dois: eu e o peru.

NÃO GOSTAVA DE BRINCADEIRAS

Um fanfarrão, acostumado a deixarem passar sem castigo as suas insolências, insultou um dia um oficial. Este, por única resposta, pregou-lhe uma bofetada que retiniu por todos os ângulos do botequim onde se achavam, e atraiu a atenção de toda a gente.

– Isso é sério? – perguntou o espadachim, impertigando-se.

– Muito sério. – respondeu o militar.

Ao que o primeiro replicou altivamente:

– Lá me parecia; porque comigo ninguém brinca!


COISA FÁCIL

Um provinciano chegado de pouco à Corte procurava a casa do seu irmão, de cujo endereço ele só sabia ficar perto do Presídio. Não conhecendo o Rio de Janeiro, perguntou a um estudante como fazia para ir até lá.

– Não tem nada que errar; – lhe respondeu este – em chegando àquela rua, que é a dos ourives do ouro (logo se conhece pelas tabuletas), quebre um vidro da primeira, pegue o que encontrar, e em menos de cinco minutos estará no Presídio.

BELA NARIGUDA

– Que mulher tão interessante! Que olhar tão expressivo! Que boca tão graciosa! Que fisionomia tão distinta! É uma pena que o nariz não corresponda ao mais: é um nariz “comum”.

– Diga “como dois” que é mais exato.