CÃO PRODIGIOSO
Um padre tinha um cão a que muito estimava. Vindo o animal a morrer, o clérigo lhe fez uma espécie de túmulo no seu jardim, e convidou seus amigos para uma cerimônia, em que fez grandes elogios ao seu falecido cão. Logo houve quem o acusasse às autoridades religiosas, dizendo que ele havia cometido um pecado, ao dar tal tratamento a um cão.
Mandou-lhe chamar o arcebispo, e lhe disse:
– Com que vossa mercê ousa enterrar um animal com cerimônias de gente?
– O meu cão, Eminência, – respondeu-lhe o pároco – tinha qualidades excelentes; mas para não ser importuno a referi-las, só lhe direi uma: é que fez testamento e deixou a Vossa Eminência duzentos mil reais, que aqui trago.
– Ah! A maldade dessa gente! – exclamou o arcebispo, embolsando o dinheiro – que já iam deitar a perder um religioso exemplar como sois vós, padre!