LOBISOMEM FEDORENTO

O tenente-coronel Alexandre Cardoso de Meneses era ajudante oficial da sala, do vice-rei Conde da Cunha. Era também mau caráter, de costumes dissolutos, jogador e libertino. Além disso, dado a arriscadas aventuras amorosas.

Certa noite muito escura, vestindo uma capa negra e embuçado, tentou entrar às escondidas na casa de certo João Fusco, na Rua do Padre Homem da Costa, para encontrar-se com a bela filha deste. Mas foi visto por uma escrava que, tomando-o por uma assombração, pôs-se a berrar a plenos pulmões: “Lobisomem! Lobisomem!...”. Com os berros histéricos da preta, acudiram, com facões e porretes, João Fusco e outros homens que com ele jogava cartas nos fundos da casa.

Alexandre Cardoso conseguiu escapulir, mas não antes de receber meia dúzia de pauladas. Berrando de dor, chispou porta afora, e correu pela escuridão até chegar a uma vala que havia ao final da rua, onde a vizinhança costumava jogar lixo, animais mortos, águas servidas e,… os dejetos humanos das casas! Ele tentou pular a vala, mas caiu dentro da imundície.  Cercado pela turba enfurecida, que o procurava com archotes, não teve outro recurso senão mergulhar nas fezes, deixando apenas o nariz de fora, e ficar assim até a madrugada!…

Logo se propalou a história do lobisomem, e dias depois amanheceu em frente da Rua do padre Homem da Costa, junto da fétida vala, fincado um poste com o seguinte cartaz:

            Mude-se o nome da rua,

            Tenha outro nome e mais gala;

            Seja, em vez de Homem da costa,

            Do Ajudante da Sala,

            Que uma noite um lobisomem

            Aqui se banhou na vala.