AS MALAS DO CHALAÇA

D. Pedro I tinha queda por gente reles. E ninguém gozava de mais prestígio junto ao fundador do império brasileiro que Francisco Gomes da Silva, o Chalaça. Ele era a encarnação do que havia de mais ordinário. Bêbado, capoeira, navalhista, tocador de violão, vivia ele em farras pelos prostíbulos, nas ruas fazendo serenatas, ou metido em brigas com outros vagabundos. Mas D. Pedro I teve verdadeira fascinação pelo Chalaça: tirou-o da barbearia em que ele trabalhava, e levou-o para o paço; fez dele conselheiro do império, seu confidente, e o homem que mais força tinha sobre o imperador. Os ministros tentavam em vão livrar-se dele.

Só depois de muitos anos, no tempo da segunda imperatriz, conseguiram os ministros afastar o Chalaça do Brasil, e só o conseguiram com o apoio decidido da soberana – a quem D. Pedro, por paixão, não queria contrariar.

Mas D. Pedro ficou com o ministério atravessado à garganta! Para vingar-se dos ministros, resolveu ir pessoalmente arrumar as malas do favorito, com suas próprias mãos. Depois se gabava disso aos ministros. Fazia-os esperar horas e horas e, quando aparecia dizia:

            – Demorei porque estava arrumando as malas do Chalaça!…