COMPADRE ERBÍVORO

Os indígenas não conheciam o cavalo, que foi trazido para o Brasil pelos europeus. Certa vez, um chefe índio aliado dos portugueses, foi à estrebaria e pôs-se a falar com um dos cavalos. Disse que o queria por compadre, porque tinha ouvido dizer que os cavalos eram valentes na guerra e bons amigos. Um mameluco que tinha cuidado do cavalo, quando viu o índio triste por não obter resposta, ofereceu-se para intérprete, e fingindo que falava na orelha do animal, disse-lhe que o cavalo honrava-se com sua amizade. Com esta resposta o índio perguntou o que comia o seu compadre, porque de tudo o proveria. Respondeu o mameluco que o seu mantimento diário era erva e milho, mas que também comia carne, peixe, e mel.

 De tudo forneceu abundantemente o chefe, andando os seus, uns a segar erva, outros a caçar, e pescar, e tirar mel dos paus – com que o intérprete se sustentava muito bem! E o cavalo engordou tanto, que abafou, e morreu de gordo, cuja morte o índio muito sentiu, e o mandou prantear por sua mulher e parentes.