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POLÍTICA
Havia um sapateiro que, enquanto trabalhava, costumava cantar esta cantiga:
Não sei bem se foi de noite,
Ou se foi de manhãzinha,
A rainha disse ao rei
E o rei disse à rainha.
Um vizinho, farto de o ouvir cantar sempre a mesma coisa, perguntou-lhe um dia:
– Ó mestre, mas que diabos disseram eles um ao outro?
– Eu sei cá disso? Eu não me meto em política!
COMO ACHAVA
Num exame oral:
– Qual é a distância entre a terra e a lua?
– Trinta e sete milhões de léguas.
– Como acha o sr. essa distância?
– Enorme!
VERDADE DITA GRACEJANDO
A uma janela dos Paços Reais, das que olhavam para o Terreiro do Paço, conversavam os marqueses de Fronteira e Távora, que ambos aspiravam o valimento do rei D. Pedro II.
Caminhando para eles D. Pedro e pondo-lhes as mãos sobre os ombros, lhes perguntou:
– Em que discorrem os marqueses?
O de Távora, que era pronto e vivo, lhe respondeu:
– Ambos, Senhor, estamos vendo como havemos de enganar um ao outro, e também à Vossa Majestade.
O MERCEEIRO DEVOTO
– Que coisa boa é a honestidade; – dizia um merceeiro à sua mulher, ao final do dia – que crédito nos fez adquirir!
– Sim, – disse a mulher – nunca devemos nada a ninguém, nem faltamos jamais com o peso, medida ou qualidade.
– Ouça, acabo de me lembrar: – disse o marido – colocaste água no tabaco e no vinagre?
– Sim, já está feito.
– E pólvora na aguardente?
– Também.
– E gesso no açúcar?
– Sim.
– E sebo na manteiga?
– Sim, homem, já está tudo feito!
– Muito bem; pois vamos rezar o rosário, e depois poderemos nos deitar na graça de Deus.
PERFEIÇÃO
Pregando certo frade sobre a inefável sabedoria do Todo-Poderoso, estendeu-se em provar que tudo o que ele criou é sumamente perfeito.
“Isso dirás à tua tia!” dizia para si mesmo um corcunda, a cada prova dava o frade, “tu dirás o quanto queiras, mas não me irás convencer” – Não parou nisso, mas querendo dar uma prova positiva contra tudo o que havia dito o pregador em seu sermão, saiu o corcunda a esperá-lo à porta de igreja, pôs-se diante dele, lhe disse:
– Vós, padre, afirmastes que Deus fez todas as coisas perfeitas; pois olhai para mim!
– Filho meu, – respondeu o frade com doçura – tu és a prova viva do que eu tenho dito, porque em se tratando de corcunda, não poderia Deus fazer um mais perfeito.
MILAGRE
Querendo um rei passar em revista sua guarda, mandou que formasse sobre uma planície onde um lavrador tinha semeado feijão. O lavrador veio assistir, como muitas outras pessoas, a revista, e deparou com sua propriedade destroçada pelas tropas, causando-lhe profundo desgosto; e pôs-se a gritar:
– Milagre! Milagre!
– Que tens, meu bom homem, – disse-lhe um oficial – para gritar “milagre”?
O lavrador, sem responder, continuou a berrar:
– Milagre! Milagre!
Chegando o caso aos ouvidos do Rei, ele ordenou que o homem fosse trazido à sua presença; e perguntou-lhe por que gritava “milagre”.
– Senhor, – disse ele – é por que eu tinha semeado nesta terra feijão, e nasceram soldados!