Arquivo por autor

EXPLICAVA TUDO

Um magistrado, que sem sabê-lo, servia de ponto de comparação para o mais néscio, dizia:

– Os médicos são uns ignorantes. Sendo eu muito pequeno padeci de uma febre cerebral que pôs em perigo a minha existência, e os médicos asseguraram tão grave que ou bem eu morreria na ocasião, ou ficaria idiota para sempre; e, como vedes: não morri e sou eu que administro justiça.

– E assim ela vai… – replicou um rústico em voz baixa.

MILAGRE

Seguia lentamente uma diligência por uma encosta que tinha um precipício de cada lado, e disse o alcaide aos demais passageiros:

– Grande milagre se viu aqui o ano passado, num dia como hoje. Imaginem vossas senhorias que despencou uma diligência cheia pelo despenhadeiro da direita.

– E não pereceu nenhum passageiro? – perguntou alguém.

– Todos.

– Pois onde está o milagre?

– Que, por bondade divina, salvaram-se as seis mulas.

A SOGRA DE SÃO PEDRO

O Padre Antônio Vieira referindo-se ao caso, relatado pelo Evangelista São Lucas, da sogra de São Pedro, que jazia com grandes febres, e, entretanto não a curava  o genro:

– Pois se S. Pedro passando pelas ruas sarava os enfermos estranhos, bastando só que os tocasse com a sua sombra, a enferma que tinha dentro de casa, tocando-lhe tão de perto no parentesco, por que a não sarava?

E dava a explicação o insigne jesuíta:

Só por ser sogra! Uma sogra talvez é melhor estar doente, que sã! Porque doente, a doença a tem quieta a um canto da casa, e sã, rara é a que se contente com menos que todos os quatro cantos dela…

COMO HOJE…

Disse o Padre Antônio Vieira no discursou do “Sermão de São Pedro”, a respeito do governo da época:

– A peste do governo é a irresolução. Está parado o que havia de correr; está suspenso o que havia de voar, porque não atamos nem desatamos.

ESTRAGADA

Sobre um pobre homem que acabava de sair de casa, derramaram desde uma janela do andar de cima, o líquido de certo vaso.

O homem examinou-se atentamente, e disse:

– Fizeram bem em jogar fora esta bebida; porque me parece que começava a arruinar.

FILHOS…

Uma pobre velha ia com dois burricos a um mercado, quando três estudantes saudaram-na, dizendo-lhe por troça:

– Bons dias, mãe dos burros.

– Bons dias, meus filhos. – lhes respondeu ela em tom maternal.