Arquivo da Categoria ‘De 1500 a 1600’
CONTINUANDO…
Em meio a uma preleção na Universidade de Salamanca, um dia, o monge agostiniano e poeta Luís Ponce de Leon foi levado preso pela Inquisição Espanhola. Libertado depois de cinco anos na prisão, ele saudou os seus alunos com as palavras:
– Continuando o que eu estava dizendo outro dia…
VEXAME
Quando Vasco da Gama chegou à província de Calicute, na Índia, em 1498, pensava impressionar o rei daquela terra.
Mas, seus navios eram calhambeques feios, pobres e mal equipados, sendo motivo de escárnio dos vagabundos e da garotagem do porto.
E os presentes que ele trouxe para o orgulhoso Samorim – um rei que o recebia com uma magnificência fantástica, sentado num trono de ouro e literalmente coberto de jóias dos pés à cabeça? Açúcar, azeite e tachos de cobre, como se se tratasse de um chefe de tribo selvagem!
Ultrajado, o Samorim simplesmente fez-lhe um gesto para que saíssem da sua presença – portugueses e “presentes”.
E, quando Vasco da Gama disse estar representando “um rei rico e poderoso”, a corte inteira riu incrédula.
Profundamente humilhado, a ele só restou retornar aos seus navios, e fazer soar os canhões com fúria!…
FOI BARATO
Muitos eram os capitães que tinham escasso conhecimento de navegação – Pedro Álvares Cabral entre eles. Por isso dependiam quase que exclusivamente dos seus pilotos, que, criados desde grumetes na vida do mar, tinham a prática proveniente de continuadas viagens. Ainda que a sua ciência fosse limitada; e por isso pouco fundada a bazófia com que se ufanavam.
Essa bazófia dava por vezes origem a desagradáveis contendas entre eles e os capitães. Para as evitar, no reinado de D. Sebastião se estabeleceu uma multa de trezentos cruzados, ao capitão que injuriasse o piloto.
Certa vez, o capitão Pereira Pestana, farto de aturar a arrogância e as malcriações de seu piloto, resolveu dar um basta nisso: Atou uma bolsa com trezentos cruzados num cabo próximo à roda do leme, e depois aplicou umas violentas bofetadas no piloto. Que, dali em diante, pasou a comportar-se com humildade e subordinação.
DECAPITADO
Indo para a guerra, um jovem disse a seu pai que retornaria dentro em breve, e que lhe traria a cabeça de um soldado inimigo.
Passados vários meses, contudo, como o rapaz não tivesse voltado, o bom pai, que sentia muitas saudades do filho, dizia a todos:
– Queria tanto que meu filho voltasse para casa, ainda que fosse sem a cabeça!
EM FRALDAS
Um judeu, para evitar as perseguições a que seu povo estava sujeito, resolveu fazer-se batizar, tornando-se converso ou cristão-novo. Perguntou então a um amigo cristão que traje deveria por para a cerimônia.
– Meu querido amigo, – retrucou-lhe o outro – não posso aconselhar-te nesse ponto, pois nós nos batizamos em cueiros!…
SÃO TOMÉ
Falavam um dia da longevidade dos corvos:
– Muitos desses animais – afirmava alguém – chegam a viver duzentos e mais anos.
Mas um dos cavalheiros presentes, duvidando:
– Hum!… Será verdade?
– Parece que não há dúvida. Está comprovado.
E o incrédulo, reflexivo:
– Pois deixe estar… Hei de fazer uma experiência…
– Que experiência?
– Vou mandar vir um corvo! Quero eu próprio verificar se essas aves atingem tão prodigiosa idade!