Arquivo da Categoria ‘De 1500 a 1600’
IMBATÍVEL
O barão de Alvito era muito mentiroso. Estando em uma ocasião as damas do paço divertindo-se, combinaram entre si que cada uma diria a sua mentira, para se ver qual era a maior. Disse a que venceu a disputa:
– A minha mentira é que o barão disse agora uma verdade.
ORADOR ANIMAL
Numa pequena vila da província, fazia-se uma solenidade para receber a El-rei, a quem toda a câmara municipal e funcionários vieram cumprimentar. O vereador mais velho proferia um longo e monótono discurso laudatório ao monarca, quando um jumento começou a zurrar. O rei então voltando-se muito sério para o lado de onde vinham os zurros do jumento, disse:
– Senhores, fale cada um por sua vez.
DURAR
Dizendo alguém na presença de D. Francisco de Portugal, conde de Vimoso, que certo homem ignorante e avarento prometia viver muito, respondeu o douto nobre, com um sorriso irônico:
– Me parece, senhores, que a isso se devia chamar “durar”, e não “viver”!…
PRAGA FELINA
Montenegro deu de presente ao velho Diego de Almagro o primeiro gato que apareceu na América do Sul, e em recompensa recebeu seiscentos duros, uma elevadíssima quantia!
Os primeiros gatos que foram mandados ao Brasil, venderam-se aqui por uma libra de ouro. Havia então vasta quantidade de ratos em nossa terra, provavelmente trazidos pelos navios europeus.
Foi, portanto, boa especulação trazer para cá alguns casais daqueles animais. Os seus primeiros filhos venderam-se a trinta oitavas cada um, os seguintes a vinte oitavas.
Mas, bem depressa a quantidade de gatos foi tal, que, apesar da sua grande utilidade, ninguém já dava por eles um real. Nem mesmo de graça os queria receber.
Pouco depois, os gatos criados soltos pelas ruas, tornaram-se uma praga tão grande – miando durante a noite, matando pássaros de estimação, roubando comida, transmitindo doenças – que havia quem julgasse preferível os ratos!
SOPA DE PEDRA
Um frade mendicante, pedindo pouso na casa de um avarento, foi mal recebido. De má vontade o sovina cedeu teto, mas disse não dispor de nenhuma janta.
O frade, porém, declarou que apenas pedia uma panela e um lugar à lareira. Iria buscar água ao poço, e, graças a uma receita só por ele conhecida, faria com uma pedra, uma deliciosa sopa.
Esta declaração excitou viva curiosidade no sovina, que pensou: “Está aí uma coisa que interessa aprender!”
O frade escolheu um calhau, lavou-o, e o pôs ao lume. Depois provou. Faltava sal. O avarento providenciou o sal. “E não haveria uma cebola, para dar um gostinho?” – perguntou o frade. O avarento prontamente tratou de conseguir uma.
Instante depois tornou o frade: “E se tivesse umas folhas de couve e um pouco de toucinho? Então é que a sopa de pedra ficaria um acepipe”. Novamente o dono da casa trouxe o que fora pedido, no afã de descobrir a fórmula de tão econômica alimentação.
De pedido em pedido, obtidas uma batata, duas cenouras, uma coisa e outra; ficou excelente a sopa milagrosa do frade, que foi dormir de barriga cheia.
OS SONHOS
Prestes a fazerem uma longa viagem, e com farinha suficiente só para fazer um pequeno pão, dois burgueses propõe ao lavrador que os acompanha, para enganá-lo, que aquele que tiver o sonho mais impressionante durante a noite, é que deve comê-lo sozinho.
Na manhã seguinte, um dos burgueses disse:
– Eu sonhei que um anjo me tinha levado à presença de Deus!
O outro então proclamou:
– Pois eu sonhei que dois anjos me tinham levado ao inferno!
Depois, acordam o lavrador, que fingia ainda dormir, mas que ouvira tudo, o qual lhes diz:
– Esta noite tive um sonho magnífico! Vi que meus companheiros tinham ido, um para o céu e outro para o inferno. Como eu não esperava que voltassem. levantei-me e comi o pão.