Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’

QUEM SERÁ?

Um bom marido dizia à sua mulher:

– Creio que neste lugar não há mais de um marido que não seja traído pela mulher.

– E quem é? -, perguntou-lhe a mulher.

-Pois, tu não sabes?

– Na verdade não. – respondeu ela com a maior simplicidade.

POR ISSO MESMO

Passeava um proprietário em seu pomar, quando o sol estava a pino. O jardineiro, que não o esperava, dormia à sombra de uma árvore. O patrão aproximou-se e gritou-lhe, colérico:

– Indolente! Como que então, dormes em vez de trabalhar? Não mereces nem a luz do sol que recebes!

– Pois foi por isso mesmo, meu amo, – respondeu-lhe o jardineiro – que eu me deitei à sombra.

INOPORTUNO

Um frade tomava um caldo em dia de vigília. Depois que ele já tinha dado o primeiro sorvo, aproximou-se dele um criado e lhe advertiu que era sexta-feira. O frade voltou-se com ira, e deu-lhe uma bofetada, dizendo:

– Imbecil: ou me avisaste muito cedo, ou muito tarde!

A FORÇA DO HÁBITO

Um padre, ajudando a bem morrer a um agiota, pôs em suas mãos um crucifixo de prata. O avaro, que já estava nas últimas, examinou-o, e sentindo-lhe o peso, balbuciou com um fio de voz:

– Por esta jóia não posso dar mais do que tanto.

ANALOGIA

Comparavam alguns os tribunais às moitas de espinhiros, onde a ovelha busca abrigo contra os lobos, mas donde não se retira sem deixar nela parte do pelo!

PARA PORTUGAL!

Referindo-se ao desapego dos colonos ao Brasil, Frei Vicente do Salvador afirma que os povoadores, por mais arraigados que na terra estejam, e mais ricos que sejam, tanto portugueses quanto já aqui nascido, tudo pretendem levar a Portugal. E  se as fazendas e bens que possuem soubessem falar, haveriam de lhes ensinar a dizer como os papagaios, aos quais a primeira coisa que ensinam é “papagaio Real, para Portugal!”