Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’

De um homem que falava mal de todo mundo, e que só comia em casa alheia, se disse: que não abria a boca que não fosse às custas dos outros.

Certa ocasião, pleitearam os médicos com os advogados, em questão de precedência cerimonial. Perguntou o juiz às partes:

– Que ordem observam o ladrão e o verdugo, quando caminham a local de suplício?

– O ladrão segue na frente, e o carrasco atrás. – responderam unanimemente.

– Pois bem, – disse o juiz – então que o advogado anteceda, e que o médico o siga.

Certo cortesão atravessava com seu filho um dos salões do palácio; encontraram nele um dos ministros, que se distraia em assoviar. Saudaram-no e ele apenas correspondeu com um ligeiro movimento de cabeça: a expressão de seu rosto era a de um homem que se considerava superior. Porém o mordaz cortesão, voltando-se para seu filho, perguntou-lhe:

– Não é verdade que o rei tem um ministro que assovia bem?

Vendo certo soldado uma grande cruz colocada entre duas tabernas, disse que haviam colocado Jesus Cristo entre dois ladrões. Ofendeu-se um dos taberneiros daquela expressão, mas o militar, apoiando sua mão no cabo da espada, lhe replicou:

– Procura ser o bom ladrão, e te salvarás.

Perguntaram a um necessitado: de que vivia?

E ele respondeu:

– Se me perguntassem de que morro, responderia que de fome.

Um criado, muito estúpido, era em casa de seus amos o joguete dos demais criados, que lhe imputavam a culpa de tudo de errado que eles mesmos faziam. Dito criado se desculpava tão tolamente, que dava lugar a crerem-no culpado, e por isso recebia péssimo tratamento. Disseram-lhe um dia, que a ama estava grávida, e ele pôs-se a chorar amargamente. Perguntando-lhe seus companheiros a causa do pranto, ele respondeu:

– Já vereis como me acham o culpado da gravidez da senhora.