Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’

ASSUMIDO

Uma dama ofereceu um copo de vinho a certo cavalheiro muito bufão; porém ele não o quis tomar, dizendo:

– Quando o asno não o quiser, ninguém o fará beber.

Ao que replicou a senhora:

– Por isso mesmo eu não insisto.

FILHOS

Uma rainha perguntou certo dia a uma de suas damas de honra, casada, quantos filhos ela tinha.

– Três, Majestade – respondeu a aia.

Passado algum tempo, em que ela distraiu-se em alegre palrar com outras mulheres da Corte, tendo esquecido de que já havia feito tal pergunta, a rainha tornou a perguntar quantos filhos tinha a sua dama de companhia.

– Tendo em vista que desde que Vos informei da última vez, Majestade – redargüiu a aia – não estive nem um instante confinada com meu marido, acredito ainda ter apenas três.

IMPOSSÍVEL SABER

Um homem recém havia chegado do teatro. Alguém pergunto qual fora a peça que ele assistira ser representada.

– Como poderiei saber? – retrucou o homem – chovia tão intensamente quando eu entrei, que eu não pude ler o cartaz.

ESPECIALISTA

Uma cidade tinha recém terminado de construir uma ponte, e os contratantes deram um banquete, para o qual foram convidados todos os entendidos em construção de pontes. Um dia antes do banquete, um desconhecido foi visto examinando a obra detalhadamente, com muita atenção. Como fosse suposto ser um especialista, foi ele honrado com um convite para a festa. Depois da comezaina, um dos arquitetos disse ao tal homem:

– Como vós haveis vistoriado nossa obra muito cuidadosamente, quiçá podeis oferecer-nos novas idéias. De qualquer maneira dizei-nos o que achais de nosso trabalho.

– Eu estive pensando – retorquiu o homem – quão felizes fostes vós em construir a ponte por sobre o rio, pois de outra forma nunca teríeis atingido a outra margem.

MÁ INFLUÊNCIA

Certo duque costumava visitar a prisão, no dia do seu aniversário, com o objetivo de libertar um dos galés. Cada um dos prisioneiros, ao ser questionado, declarou sua inocência, e que havia sido a infeliz vítima de um erro judicial. Apenas um único homem disse:

– Eu penso que não recebi toda a punição que merecia.

– Tirem as correntes deste patife – ordenou o duque aos carcereiros – e mandem-no embora. Ele poderá perverter todos esses homens honestos.

SUTIL…

O Padre Antônio Vieira relata que havia em Coimbra dois famoso pregadores, ambos bem conhecidos por seus escritos. Certa ocasião altercou-se entre alguns doutores da Universidade, qual dos dois fosse maior pregador. Uns diziam este, outros aquele. Mas, um lente, que entre os mais tinha maior autoridade, concluiu desta maneira:

– Entre dois sujeitos tão grandes não me atrevo a interpor juízo; só direi uma diferença que sempre experimento. Quando ouço um, saio do sermão muito contente com o pregador; quando ouço outro, saio muito descontente de mim.