Arquivo da Categoria ‘De 1700 a 1800’

BANQUETITE AGUDA

Um embaixador numa corte estrangeira, havia estado sete horas à mesa num banquete, e pensou que ia arrebentar. Mais tarde, relatando o fato em carta ao seu rei, ele dizia: “Que se deixará de fazer a serviço de Vossa Majestade?” Mas terminava assim: “Eu antes prefiro fazer orações pela Vossa saúde, que beber a ela”.

DOSE PARA LEÃO

Querendo certo deputado ostentar sua erudição no discurso que fez a um príncipe, começou assim:

– Quando Aníbal partiu de Cartago…

O príncipe, que já tinha ouvido vários discursos, atalhou-o, dizendo:

– Quando Aníbal saiu de Cartago, já tinha jantado. E é o que eu vou fazer agora…

PEDRA COVARDE

Um bêbado queria sair por um beco, achando que era travessa, e não conseguindo, entendeu que lhe tinham fechado a saída. Tira então da espada e entra em estocadas e cutiladas contra uma grande pedra, pensando ser um homem, e com as pancadas saíram algumas faíscas:

– Ah, velhaco, – diz ele recuando – vens com armas de fogo!

ISSO TAMBÉM NÃO

Estavam certos fidalgos moços a exagerarem suas casas, morgados, carruagens, cavalos, etc. Dizia um – depois dos outros terem exposto o que quiseram:

– Eu dou dois mil cruzados por ano, de ordenado ao meu mordomo.

Parecendo-lhes a eles excessiva a patranha, disse um deles:

– E vós pagais-lhe tudo isso?

 Responde ele mui sinceramente:

– Não, isso não.

LIMPA LÁ, SUJA AQUI

O marquês do Lavradio, que tanto fez, como vice-rei, pelo asseio da cidade do Rio de Janeiro, era, como se sabe, indiscretamente dado às aventuras amorosas. Por esse tempo, havia na cidade um doido, tipo popular, de nome Romualdo, famoso pelo modo desabusado porque tratava toda gente.

Encontrando-o uma vez, o vice-rei perguntou-lhe, de bom humor:

– Então, Romualdo, que dizem por aí de mim?

– Dizem que Vossa Excelência, Limpa as ruas, mas suja as casas! – respondeu o aluado.

E foi saindo.

LOBISOMEM FEDORENTO

O tenente-coronel Alexandre Cardoso de Meneses era ajudante oficial da sala, do vice-rei Conde da Cunha. Era também mau caráter, de costumes dissolutos, jogador e libertino. Além disso, dado a arriscadas aventuras amorosas.

Certa noite muito escura, vestindo uma capa negra e embuçado, tentou entrar às escondidas na casa de certo João Fusco, na Rua do Padre Homem da Costa, para encontrar-se com a bela filha deste. Mas foi visto por uma escrava que, tomando-o por uma assombração, pôs-se a berrar a plenos pulmões: “Lobisomem! Lobisomem!...”. Com os berros histéricos da preta, acudiram, com facões e porretes, João Fusco e outros homens que com ele jogava cartas nos fundos da casa.

Alexandre Cardoso conseguiu escapulir, mas não antes de receber meia dúzia de pauladas. Berrando de dor, chispou porta afora, e correu pela escuridão até chegar a uma vala que havia ao final da rua, onde a vizinhança costumava jogar lixo, animais mortos, águas servidas e,… os dejetos humanos das casas! Ele tentou pular a vala, mas caiu dentro da imundície.  Cercado pela turba enfurecida, que o procurava com archotes, não teve outro recurso senão mergulhar nas fezes, deixando apenas o nariz de fora, e ficar assim até a madrugada!…

Logo se propalou a história do lobisomem, e dias depois amanheceu em frente da Rua do padre Homem da Costa, junto da fétida vala, fincado um poste com o seguinte cartaz:

            Mude-se o nome da rua,

            Tenha outro nome e mais gala;

            Seja, em vez de Homem da costa,

            Do Ajudante da Sala,

            Que uma noite um lobisomem

            Aqui se banhou na vala.