Arquivo da Categoria ‘De 1700 a 1800’

Dois amantes de uma mundana, reciprocamente enciumados, sacaram as espadas para matarem-se, em frente à própria porta da rapariga. Porém esta, assomando a uma janela, lhes disse:

– Amigos, meus carinhos não se conseguem com gritos, mas com prata e ouro.

Um embaixador turco recebeu a visita de certas damas, muito cheios seus rostos de tinturas e pó de arroz. Querendo saber do mesmo embaixador (as que se tinham por mais lindas), o que tal lhes havia parecido, lhes respondeu:

– Nada posso dizer sobre esse assunto, porque não entendo de pintura.

Morrera o ministro de um rei, e enorme multidão o acompanhava ao cemitério. Um amigo seu pronunciou um discurso em seu elogio e disse entre outras coisas que sua alma devia estar no paraíso.

– Se está no paraíso, – disse um ouvinte – então é que o diabo se deixou tapear pelo caminho.

Uns capuchinhos pegaram a um rapazola que lhes roubava frutas do pomar, e mandaram chamar seu pai para que lhe desse uma forte reprimenda.

– Preguiçoso, burro, imprestável! – disse-lhe este – não servirás para nada na vida. Se não te tornares capuchinho, vais acabar na forca.

Um valentão matou em uma pousada o criado que o servia, porque lhe havia dado uma má resposta.

O dono da pousada, a patroa, os moços das mulas, os hóspedes, todo mundo gritava contra o matador, que disse:

– Ora! Tanto alvoroço por nada! Pensam que eu sou um qualquer? Se o matei, morto está; ponham-no na conta, que o pagarei como se eu o tivesse comido.

Alguns paroquianos foram ver o seu pároco, e pediram-lhe que dissesse umas orações próprias para atrair a chuva.

– Eu farei tudo que seja do vosso agrado, – disse o cura – mas eu desconfio que o Senhor não atenderá às vossas súplicas até que deixe de soprar o vento norte.