Arquivo da Categoria ‘De 1900 a 1950’

A VELHA

Orlando Silva foi cantor das multidões. Aonde ia, os admiradores o acompanhavam, aos gritos e desmaios. E Orlando citava sempre, com o maior carinho, sua bondosa e virtuosa genitora, dona Balbina, porque, filho extremado, não era raro era visto em companhia da respeitável senhora.

Um dia ele foi pagar a conta da Light. O homem do guichê exigiu que ele apresentasse a conta velha, do mês anterior:

– Amanhã, traga a velha, para confrontar.

No dia seguinte, ele apareceu com dona Balbina.

NOVO TECIDO

Uma tarde, Orlando Silva apareceu no Café Nice, vestindo bonita camisa de seda. O compositor e médico Alberto Ribeiro, ao verificar que o cantor suava demais, apontou sua camisa molhada e comentou:

– Não estás suportando esta canícula.

Orlando achou linda a palavra. Momentos depois, outro amigo se aproximou e elogiou a camisa:

– Bonita seda!

Orlando protestou:

– Seda, não. Isto é canícula, no duro!

QUEM NÃO QUER?

No tempo dos programas musicais ao vivo, no rádio, Roquete-Pinto, que era diretor da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, ouviu, certa noite, o popularíssimo Francisco Alves cantar:

– “Eu quero uma mulher bem nua, bem nua, etc.”

 Telefonou para a emissora e mandou suspender o programa.

No dia seguinte, o seresteiro foi falar com ele:

– Dr. Roquete, estou meio aborrecido, porque o senhor cortou minha audição.

– Fui obrigado, Chico.

Disse por quê:

– Uma mulher bem nua todos nós queremos. Mas não se pode anunciar isso pelo rádio.

COISA VELHA

Certo poeta mostrou versos seus a Heráclito Graça. Este leu a papelada, e, depois disse:

– Quer um conselho? Pendure a lira no salgueiro e desista.

O poeta rebelou-se:

– É porque você não entende disso. Meus versos são novos.

– Novos?! – fez Heráclito. – Engano seu. Desde menino ouço dizer que asneira é coisa velha!

SENADOR “AINIGMÁTICO”

Num comício, na Paraíba, da campanha eleitoral do senador Ruy Carneiro, no qual tomou parte o deputado padre Medeiros Neto, este, como todo político do interior que se preza, improvisou:

– O senador Ruy será eleito. Porque ele tem o “R” da Renúncia, o “U” da União e o “Y”… e o “Y”…

Engasgou-se, mas completou:

– … o “Y” do ainigma grego.

SEU EUCLIDES

Nos anos 40, em que os programas musicais no rádio eram ao vivo, com auditório, certa vez foram vários artistas de fama nacional, a São José do Rio Pardo, em excursão. Lá, entre outras coisas, visitaram a casa em que Euclides da Cunha viveu, em 1898, enquanto construía uma ponte. Ali, ele terminou “Os Sertões”, sendo o prédio conservado como relíquia.

O diretor os recebeu, servindo de guia. À saída, o Maestro Chiquinho, feliz da vida, cumprimentou o diretor, num agradecimento:

– Muito obrigado por tudo, seu Euclides da Cunha. Gostei muito da sua casa!…