Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’
IRREVERÊNCIA
Os cariocas, com sua conhecida verve, desde o início da República sempre trataram os presidentes com irreverência, colocando-lhes apelidos e inventando anedotas por eles protagonizadas.
Epitácio Pessoa, com cara de roceiro, era o Tio Pita; seu sucessor, Arthur Bernardes, muito claro e de cabelos brancos, era o Rolinha, mas também era Seu Mé, por ser bom amigo da garrafa; Nilo Peçanha, avermelhado, era o Peru; Campos Sales, a vaidade em pessoa, era o Pavão…
PRESIDENTE BIRIVA
Prudente de Morais recebeu o apelido de Biriba (Cornélio Pires, dizia ser Biriva). Embora haja divergências sobre a origem desse apelido, ambas as explicações são divertidas: Francisco de Assis Barbosa dizia que era assim que os cariocas chamavam os matutos paulistas; já Raimundo Magalhães Júnior dizia que esse era o nome de um macaco barbudo do zoológico do Barão de Drummond (o criador do jogo do bicho), – que era a cara do presidente!
INTELECTUAL
O Marechal Hermes da Fonseca tinha vários apelidos jocosos: Dudu, Urucubaca, Corta-jaca, Cheirosa Criatura (diziam que fedia). A freqüência das anedotas sobre ele era tanta que a revista “Careta” tinha até uma seção chamada “A última do Marechal”. Tinha fama de burro. Certa vez foi à inauguração de uma biblioteca pública e deixou registrado no livro de visitas: “Gostei muinto da biblhoteca.”
DESASTRE
Wenceslau Braz era acusado de indecisão crônica. Uma anedota popular na época dizia que Sua Exª mandara construir uma casa, gastando meses na elaboração da planta. Quando a obra estava a ser terminada, ele foi visitá-la, quando iam iniciar a construção das privadas. O Presidente chamou o construtor e determinou:
– Olha: em vez de uma privada neste canto e outra naquele, faça as duas encostadas uma à outra.
– Sim, senhor – respondeu o homem, abrindo e emendando a planta.
Sua Exª andou pensativo de um lado para o outro, uns minutos, e tomou nova resolução:
– Olha: Em vez de ficarem as duas juntas daquele lado, é melhor que fiquem deste.
– Sim, senhor – respondeu o homem, e novamente emendou a planta.
Sua Exª ficou algum tempo vistoriando a casa toda e, antes de partir, mudou ainda mais duas vezes de decisão a respeito das privadas: “Olha: em vez de duas privadas, faça uma só… mas não no canto, no centro”. Minutos depois: “Olha… pensei melhor… Faça duas privadas como estava na planta”.
Finalmente, quando a obra ficou pronta, o Presidente estranhou:
– Mas que é isto? O Sr só fez uma privada, quando lhe recomendei que fizesse duas!
E o construtor, embaraçado:
– É verdade, senhor Doutor… Queira desculpar-me… Mas eu refleti: se eu fizer duas privadas… Sua Exª chega… Vê duas portas… Fica na dúvida… Vacila… Não sabe de qual há de servir-se… E será um desastre!
FUNCIONÁRIO DO BARÃO
Aparício Torelly, o “Barão de Itararé”, transformou o então presidente Washington Luís em redator-chefe de A Manha, onde aparecia em todos os números assinando longos bestialógicos (era o Vaz Antão Luís, “nosso companheiro que acumula as funções de presidente da república”).
MAIS AINDA?
Getúlio Vargas estava certa vez em seu gabinete, no Catete, quando entrou seu secretário para anunciar:
– Dr. Getúlio, o representante do funcionalismo público em greve, está aí fora.
– Que quer esse sujeito? Atenda-o e resolva o caso.
– Já fiz o que pude. O homem diz que tem audiência marcada e o assunto que o traz é grave e urgente: Quer saber sua resposta sobre o aumento dos salários.
– Chega! Já aumentei a carne, o pão, os ônibus, as barcas, os bondes, o açúcar, a manteiga, o café, e esse sujeito tem a coragem de vir falar em aumento?