Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’

ARRUME AS TROUXAS

Certo fidalgo pediu ao juiz Agostinho Petra de Bittencourt uma determinada casa. Ele deferiu o pedido. Depois o fidalgo quis casa melhor. Tornou a deferir. Depois exigiu mobília. Deferimento. Depois, mobília melhor. Depois, escravos para servi-lo.

Quando o fidalgo fez esta última exigência, o desembargador Petra levantou-se bruscamente. A sua esposa estava ali ao lado, e ele, num rompante, disse:

– Dona Joaquina arrume a trouxa. Este senhor já me pediu casas, mobílias, escravos, e com certeza vai me pedir mulher e eu só tenho a senhora, a senhora eu terei que lhe ceder, porque a lei não permite negar-lhe nada!

PONHA-SE NA RUA!

Quando a Família Real fugiu de Lisboa, em atabalhoada fuga, em 1808, junto com Sua Majestade, mais de dez mil pessoas aportaram, de repente, no Rio de Janeiro.

Mas, onde instalar todos aqueles nobres e protegidos? Simples: escolhiam-se as melhores habitações da cidade e as famílias eram obrigadas a desocupá-las, deixando mobília, louças e talheres, roupas de cama, criados, e o que mais o invasor quisesse.

As casas escolhidas eram marcadas com as iniciais P.R., que significavam Príncipe Real – mas que a malícia do povo carioca atribuiu o significado irônico de “Ponham-se na Rua”! Havia ainda quem dissesse que era “Prédio Roubado!”

O VIDIGAL

O major Vidigal foi durante muitos anos, mais que chefe, o dono da Polícia colonial carioca. Habilíssimo nas diligências, perverso e ditatorial nos castigos, era o horror das classes desprotegidas do Rio de Janeiro. Foi maior que o rei. Temiam-no como se teme a uma fera. Os capoeiras tinham-no como o diabo em pessoa.

CANÇÃO DO VIDIGAL

Sempre foi dos hábitos brasileiros, principalmente dos do carioca, levar à troça as coisas mais sérias. O Vidigal era ridicularizado às escondidas, de portas fechadas, pela canalha.

Inventou-se uma cena cômica, em verso, que o povo conhecia pelo nome de Papai lêlê seculorum. Um sujeito qualquer, representando o Vidigal, atirava-se no chão como um defunto, e o coro, em evoluções, cantava. Alguém tirava os versos:

                        Avistei o Vidigal.

                        Fiquei sem sangue;

                        Se não sou ligeiro

                        O quati* me lambe.

 

                        Avistei o Vidigal,

                        Caí no lodo:

                        Se não sou ligeiro

                        Sujava-me todo.

  O coro, a cada verso, repetia, dançando:

– Papai lêlê seculorum

 

MISSÃO DE APOSTOLADO

Certa vez o Vidigal e seus policiais deram uma batida num bordel, com grande estardalhaço. A clientela escapou pelas janelas, trancou-se nos quartos, meteu-se debaixo das camas…

Decidido, o Vidigal começou a vasculhar toda a casa com rigor patológico. No que o Vidigal enxergou um barril vazio, não teve dúvidas, meteu a carantonha e verificou que o peixe era graúdo. Dentro do barril, gordíssimo e inteiramente nu, mas disfarçado com uma ridícula peruca, encontrava-se… o vigário da Igreja do Rosário!

O dito sacerdote, acuado, tentou convencer o Vidigal de que estava disfarçado no bordel para verificar quem eram as ovelhas desgarradas do seu rebanho.

ORAÇÃO DO BÊBADO

“Santo Abafadinho, que estás na garrafa, purificado sejas sem água, venha à nós o vosso líquido, seja bebido à minha vontade, assim na taberna como em minha casa, três quartilhos por cada hora nos daí hoje, perdoa-me as vezes que te bebo menos, assim como perdôo o mal que às vezes me fazes; não me deixais cair atordoado. Amém.”