Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’

O “CABRINHA”

De 1806 a 1809, o governador da capitania do Maranhão foi D. Francisco de Melo Manuel da Câmara. Como governante, foi uma verdadeira peste: colérico e despótico. Mas que em seus despachos demonstrava bastante originalidade e senso de humor.

O povo passou a chamá-lo ( à boca pequena), o Cabrinha; já que cabra significava na gíria da época mulato, e o governador tinha uma tez morena. O diminutivo não tinha a atenção de amenizar, mas antes de acentuar. Na sua presença, entretanto, eram só rapapés e reverências!…

Pelo apelido verifica-se que os cidadãos da época além de poltrões eram preconceituosos…

UMA DO “CABRINHA”

Um dia um soldado levou-lhe uma queixa contra um músico do regimento, a quem tinha entregado uma peça de tecido, para cortar e fazer-lhe uma roupa. Mas o músico vendera o tecido, e se recusava a indenizar o soldado. O despacho do Cabrinha foi curto e grosso: “Se o soldado tivesse confiado a peça de tecido a um alfaiate, eu saberia dar as providências que o caso requer; mas como a confiou a um músico, que nada tem a ver com o ofício de fazer roupas, lá com ele que se entenda se puder!”

REVISÃO DA PENA

Noutra ocasião, Cabrinha recebeu um pedido de suspensão de pena, enviado por um conhecido fora-da-lei encarcerado; homem violento e com péssimos antecedentes criminais. Cabrinha então, em seu despacho, reconheceu que de fato era injusta a punição dada ao requerente: “O suplicante está preso injustamente, pois ele não deveria ter sido mandado para a prisão, …mas enforcado!

TÃO FÁCIL!

O filho de um intendente apresentou-se a um bispo para que o ordenasse. O pai suplicara de antemão ao prelado que não fizesse ao seu filho perguntas difíceis, porque o rapaz era bastante limitado.

 O bispo assim prometeu, e propôs ao ordenando esta questão simples:

– Se Cham e Jafé eram filhos de Noé; quem foi o pai deles?

Não sabendo o moço a resposta, o bispo o dispensou. O rapazola foi procurar o pai, relatando-lhe a pergunta que lhe fizera o bispo; para a qual ele não tinha tido a resposta.

O pai riu, e disse-lhe que fora a coisa mais fácil:

– Tivesse sr. bispo te tivesse perguntado: o filho do governador de quem é filho? Bastava que respondesses: do governador!

 O moço alegremente afirmou que tinha entendido. Retornou à casa do bispo, dizendo que já tinha a resposta à pergunta que lhe tinha sido feita. 

 Voltou o religioso a questionar-lhe:

– Se Cham e Jafé eram filhos de Noé; quem foi o pai deles?

– O governador!  

CALOR POÉTICO

Numa casa muito fria, no inverno, um mau poeta lia a um amigo uns versos que ele havia feito. O amigo ia se regelando conforme o poeta ia lendo. Perguntou-lhe o poeta que tal lhe pareciam os versos, e o outro lhe respondeu: Melhor se houvesse mais fogo em teus versos, ou mais versos teus no fogo; aí não passaríamos aqui tanto frio!

APEIE-SE

Um campônio, farto dos escândalos causados por sua cara metade, foi até um juiz para queixar-se dela. Como não tivesse o menor traquejo, entrou dizendo:

– Senhor, venho sobre minha mulher…

– Pois apeie-se, vossa mercê – retrucou o juiz. – Que aqui ninguém entra a cavalo.