Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’
SOPA DE PEDRA
Um frade mendicante, pedindo pouso na casa de um avarento, foi mal recebido. De má vontade o sovina cedeu teto, mas disse não dispor de nenhuma janta.
O frade, porém, declarou que apenas pedia uma panela e um lugar à lareira. Iria buscar água ao poço, e, graças a uma receita só por ele conhecida, faria com uma pedra, uma deliciosa sopa.
Esta declaração excitou viva curiosidade no sovina, que pensou: “Está aí uma coisa que interessa aprender!”
O frade escolheu um calhau, lavou-o, e o pôs ao lume. Depois provou. Faltava sal. O avarento providenciou o sal. “E não haveria uma cebola, para dar um gostinho?” – perguntou o frade. O avarento prontamente tratou de conseguir uma.
Instante depois tornou o frade: “E se tivesse umas folhas de couve e um pouco de toucinho? Então é que a sopa de pedra ficaria um acepipe”. Novamente o dono da casa trouxe o que fora pedido, no afã de descobrir a fórmula de tão econômica alimentação.
De pedido em pedido, obtidas uma batata, duas cenouras, uma coisa e outra; ficou excelente a sopa milagrosa do frade, que foi dormir de barriga cheia.
SERÃO TRÊS
Um jovem cavalheiro era muito viciado no jogo de dados, e muitas vezes quando tinha perdido todo o seu dinheiro, ia ele então empenhar a sua capa, e assim voltava para casa sem qualquer abrigo ou moeda, o que afligia muito a senhora sua mãe.
Para curá-lo desse costume, ela então mandou costurar nas costas de todas as camisas do filho, uma tela pintada com a imagem de dois burros. Quando o rapaz perguntou a razão de tal coisa, a senhora respondeu:
– Pois então, se perderes a capa, todos vão ver três burros!…
MELHOR
Um cardeal tinha por vizinho um ferrador, que um certo dia desapareceu da vizinhança. Indo tempos depois o cardeal a outra cidade, em certa missão do Papa, ficou doente. Tendo sido constituída uma junta médica, entre eles veio o ferrador, por médico mais afamado.
Reconhecendo-o, o cardeal o pegou à parte, e perguntou-lhe:
– Quem te fez médico?
Respondeu o outro:
– Saiba vossa eminência, que não mudei de ofício! Do mesmo modo como antes curava as bestas, agora curo os homens. E vai tudo melhor, porque além de acertar nas curas melhor que os demais médicos; se acontece de ir algum doente para outra vida, ninguém me cobra por isso! Como vossa eminência, que me fez pagar uma mula do vosso coche, por me morrer nas mãos…
CONDECORADO POR NADA
O governador-geral de Cabo Verde, D. Antônio Coutinho de Lencastre, mandou um oficial ao Rio de Janeiro para comunicar que ele tinha ordenado a construção de um forte, que defendia perfeitamente a povoação, e exagerando as coisas de tal modo que recebeu louvores e uma condecoração do Soberano.
O secretário do governo, depois de expedida a correspondência, advertiu o governador que tal forte não havia, ao que o governador respondeu:
– Admiro-me do vosso curto discernimento! Não sois capazes de antever que quando o ofício chegar ao Brasil, já estará pronto o forte que passo a mandar construir?
Na verdade o tal forte não ficou pronto quando do retorno do emissário com a comenda, demorando ainda alguns meses para ser concluído. E ficou tão mal feito e inútil, que o sucessor de Coutinho de Lencastre mandou derrubá-lo.
OS SONHOS
Prestes a fazerem uma longa viagem, e com farinha suficiente só para fazer um pequeno pão, dois burgueses propõe ao lavrador que os acompanha, para enganá-lo, que aquele que tiver o sonho mais impressionante durante a noite, é que deve comê-lo sozinho.
Na manhã seguinte, um dos burgueses disse:
– Eu sonhei que um anjo me tinha levado à presença de Deus!
O outro então proclamou:
– Pois eu sonhei que dois anjos me tinham levado ao inferno!
Depois, acordam o lavrador, que fingia ainda dormir, mas que ouvira tudo, o qual lhes diz:
– Esta noite tive um sonho magnífico! Vi que meus companheiros tinham ido, um para o céu e outro para o inferno. Como eu não esperava que voltassem. levantei-me e comi o pão.
CONTINUANDO…
Em meio a uma preleção na Universidade de Salamanca, um dia, o monge agostiniano e poeta Luís Ponce de Leon foi levado preso pela Inquisição Espanhola. Libertado depois de cinco anos na prisão, ele saudou os seus alunos com as palavras:
– Continuando o que eu estava dizendo outro dia…