Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’
ANÚNCIO
Na velha São Paulo, um certo Mota era ator e sapateiro. Numa certa peça tinha que dizer:
– Fora daqui, filho indigno! Se não sais imediatamente, atiro-te por aquela janela a pontapés!
Mota, no momento preciso, disse:
– Fora daqui, filho indigno! Se não sais imediatamente, atiro-te por aquela janela a pontapés! E esses pontapés te serão dados com estas botas da Sapataria do Mota, a mais barateira do Brás!
COM ERVILHA…
O satírico baiano, Pinheiro Viegas, começou a ter evidência com a co-autoria do panfleto em versos, O Biriba, em que alvejava Prudente de Morais, o primeiro presidente civil da República. Numerosos epigramas verbais deram-lhe fama.
Ao morrer Jackson de Figueiredo afogado, no Leblon, disse:
– Viram? Poeta de água doce… Foi tomar banho de mar…
De um sujeito que se dizia católico:
– É tão descrente quanto o arcebispo!
De Graça Aranha:
– Tem mais aranhas que graça…
Contra Coelho Cavalcanti, autor do livro Gigantes e Pigmeus:
– Eis o Coelho Cavalcanti, que nunca se viu ao espelho. Pigmeu, quis ser gigante; burro, assina-se coelho.
BANHO
Uma noite representava-se o Amor de Perdição, com a atriz Adelina Abranches e o ator Carlos Santos. A certa altura deveria ser trazida à cena uma terrina, onde Santos tinha que tomar um caldo, segundo o texto da peça.
E quando Adelina esperava receber a terrina das mãos do contra-regra, aparecem-lhe os braços musculosos de um ajudante, com um caldeirão imenso, dizendo:
– Eu o trago porque isto pesa muito.
Adelina ficou desconcertada. E teve tal acesso de riso, que a peça teve que ser interrompida, quando Carlos Santos lhe perguntou, em voz baixa:
– Isto é para eu tomar banho?
DRÁSTICO
Por volta de 1890 houve um terrível surto de cólera no interior de São Paulo. As autoridades sanitárias da Capital informaram que a doença era causada pelo microorganismo bacillus vírgula. Os coronéis, órgãos pensantes, deliberantes e agentes do Interior, consultaram o Chermoviz e, por fim, concordaram numa novidade: estabelecer cordões sanitários.
Em Tremembé, esticou-se um desses cordões à cabeça da ponte sobre o Paraíba, rio que banha aquela cidade, constituído por três praças de espingarda ao ombro, a quem o coronel deu ordens peremptórias:
– Não deixem a doença entrar sob hipótese alguma! Se o bacillus vírgula tentar passar, mandem bala!…
RUI VERBOSA
Rui estava em sua casa, certa noite, quando ouviu um cacarejar estranho no seu galinheiro.
Aproximando-se cautelosamente do galinheiro, com a bengala na mão, surpreendeu um ladrão que tentava fugir por cima do muro, com um saco de aves roubadas às costas.
O grande baiano imediatamente, dedo em riste, repreendeu o larápio:
– Ó delituoso pacóvio! Não te interpelo pelo valor intrínseco dos galináceos, mas por ousares transpor os umbrais de meu domicílio, seqüestrando-me bípedes à sorrelfa e à socapa! Se o fazes movido por penúria, transijo; mas se for com o intuito de mofar de minha prosopopéia, dar-te-ei com este cajado no topo da sinagoga, até reduzir-te a massa encefálica em cadavérica!…
E o ladrão, coçando a cabeça, atarantado:
– Dotô, isso quer dizer que eu levo ou deixo as galinhas?
MACABRO
Rui Barbosa viajava pelo interior a cavalo, quando deu com um rio, em que não havia ponte. Para cruzá-lo, as pessoas só podiam contar com a canoa de um preto velho.
Rui aproximou-se do homem e disse-lhe:
– Ó varão etíope! Careço de teus préstimos para dar prosseguimento à marcha, eis que obstruído pela líquida barreira!
– Como é que é, patrão?!… – respondeu o barqueiro.
– Ignaro! Digo: o quanto exiges de remuneração pecuniária para transladar-me sobre a massa hídrica, deste pólo àquele hemisfério?
O preto esbugalhou os olhos e arrepiou-se:
– Credo, patrão! Pro cemitério? Eu não!…