Arquivo da Categoria ‘Anedotas Históricas e Piadas Populares’

A VIDA NA CORTE

Dizia o Padre Antônio Vieira, que toda a fortuna de um homem da Corte, consistia em saber adular, mentir, furtar e repartir.

A ARTE DE ENGOLIR SAPOS

Perguntado certo palaciano, como chegara a envelhecer no Palácio o seu valimento e ventura, o que raras vezes acontece, respondeu:

– Dissimulando ofensas, e rendendo graças.

A esse respeito dizia o Marquês de Alenquer: Dando graças pelos agravos, negociam os homens sábios.

DOIS ANIMAIS

Em uma função pública estava um mancebo, mui tímido, sentado atrás de uma senhora, de quem gostava muito, e que não reparava nele. Desejoso de travar conversação, aproveitou a circunstância de ver uma mosca pousada na manta da sua formosa vizinha, e disse-lhe:

– Minha senhora, advirto-lhe que tem um animal atrás de si.

– Ai me Deus! – respondeu a senhora, muito assustada – não sabia que o sr. estava aí.

EXPLICAÇÃO DA BÍBLIA

Um frade disputava acaloradamente com um militar, porque este dizia que a terra girava em roda do sol.

– O senhor não se lembra, – dizia o enfurecido monge – que Josué fez parar o sol?

– Por essa mesma razão lhe digo, – respondeu mui gravemente o militar – que desde essa ocasião ficou imóvel!

FAVOR

Um famoso ator farsista conhecido por Carlino, certa vez tinha o teatro quase vazio, sendo obrigado a dar a sua récita em presença de dois únicos expectadores, um dos quais se retirou antes de findar a representação.

Acabada esta, e sendo costume anunciar ao público a comédia que deveria representar-se no dia seguinte, Carlino, fazendo sinal ao único espectador para que se aproximasse, lhe disse:

– Senhor, tenho que pedir-vos um favor.

– E qual é? – respondeu o expectador.

– Senhor,  – replicou Carlino – se quando sairdes do teatro encontrardes por acaso alguém, peço-vos que lhe digais, que amanhã representaremos – As vinte e seis desgraças do farsista.

UM HOMEM PREVIDENTE

Um médico vivia só em casa, tendo apenas um galego que fazia os recados. Um dia quis sair da Corte, para passar algum tempo no campo; mas lembrando-se que, durante a sua ausência, podia a humanidade reclamar os seus cuidados, pôs na porta da rua este aviso: “Eu vou passar alguns dias fora, e deixo para me substituir, o meu amigo e colega F… – Se alguém vier de noite procurar-me, e não puder ler este aviso, bata à porta do vizinho defronte, que é o meu sapateiro, e peça-lhe uma lamparina, que ele prontamente a emprestará para os fins convenientes.”