HÁBITOS

Um ladrão de jogo, jogando com um antigo capitão de cavalaria, querendo furtar cartas, usava da indústria de espevitar a luz com uma mão, e com a outra furtar a carta. O capitão que observou isto por duas, ou três vezes, lhe disse:

– Eu noto, senhor, que cada vez que vós atiçais a vela, eu tenho mau jogo; ser-vos-ei muito obrigado, se vos absterdes de ter esse trabalho; porque eu estimo mais ver menos claro, e ver melhor jogo.

O rapinante se absteve por um pouco. Passado algum tempo, estando uma grande soma para se decidir, e tendo o ladrão mau jogo, avançou as tesouras para esmurrar a vela, e diz:

– Perdoai-me, senhor, que é um antigo costume que tenho, de que me não posso abster.

– E eu, – diz o militar, apanhando com o furto na mão e agarrando-o – também tenho o costume de esmurrar os que me roubam no jogo.