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UM HOMEM PREVIDENTE
Um médico vivia só em casa, tendo apenas um galego que fazia os recados. Um dia quis sair da Corte, para passar algum tempo no campo; mas lembrando-se que, durante a sua ausência, podia a humanidade reclamar os seus cuidados, pôs na porta da rua este aviso: “Eu vou passar alguns dias fora, e deixo para me substituir, o meu amigo e colega F… – Se alguém vier de noite procurar-me, e não puder ler este aviso, bata à porta do vizinho defronte, que é o meu sapateiro, e peça-lhe uma lamparina, que ele prontamente a emprestará para os fins convenientes.”
COMPROVADO
Um sábio, lendo um livro de segredos naturais, em que se dizia que no homem, ter a barba larga é sinal de muita ignorância; pegou uma vela na mão para olhar-se ao espelho, porque era de noite, e queimou por descuido quase a metade da barba. Logo ele anotou na margem do livro: “Ficou comprovado”.
PARCO CONSOLO
Um homem, voltando do carniceiro, levava na mão um fígado de carneiro que comprara. Um cão que por ali passava, deu um salto e fugiu com ele na boca. O homem consolou-se dizendo:
– Ainda que o cachorro tenha o fígado, não sabe o modo de cozinhá-lo.
EDUCADO
Passando um provinciano, recém chegado à Corte, por uma rua, por acaso encontrou um coche; e como o que ia dentro o saudasse, por reconhecê-lo, dizendo:
– Adeus conterrâneo!
Voltou o provinciano a cabeça e não reconhecendo, lhe fez uma muito profunda reverência, respondendo:
– Adeus não conheço!
HUMOR MILITAR
Entre a soldadesca brasileira que participava da Guerra do Paraguai, era hábito, como em todos os exércitos, e em todas as eras; inventar pilhérias e atribuí-las a certos oficiais.
A principal vítima dessas gaiatices era um velho brigadeiro, tão conhecido pela bravura como pela ignorância. Dele se contava que, ditando ao secretário a parte relativa a um combate, dissera: “Não se esqueça de escrever que o inimigo fugiu tomado de terror pândego!”
A conversa deste brigadeiro era uma série de batatadas, como se dizia então no Exército. De uma formosa rapariga por quem um oficial fazia grandes sacrifícios, referia: “Aquela rapariga sustenta um luxo asinático”, asiático, queria exprimir o bom homem. Casa aritmeticamente fechada, casa de genealogias verdes, eram coisas que lhe atribuíam entre muitas outras.
Por exemplo, relatavam que uma vez fizera com ar pesaroso a seguinte observação, ao contemplar enormes rolos de fio telegráfico, deixados numa estação pelos paraguaios:
– Que pena não nos poder servir tudo isto!
– Mas por que, General?
– Ora e que palerma! Não passariam senão palavras em guarani!