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TINHA RAZÃO

Uma velhota queria pensão do Estado. O Presidente Deodoro da Fonseca mandou que ela requeresse por escrito, dando as razões por que se achava com aquele direito. A mulher insistiu, adulando, adulando. Como viu que, com ele, ser capacho não adiantava, zangou-se:

– Já sei! Se eu fosse moça e bonita, conseguiria a pensão.

Deodoro soltou a bomba que ela merecia:

– Pois é isso mesmo. A senhora é velha. Velha e muito feia.

DO INFERNO

Certo engenheiro andou cavando a concessão de uma estrada de ferro. Quase todos os dias, aparecia em palácio, para lembrar. Nos Jardins do Itamarati, Deodoro recebeu o cacete. Cumprimentou-o e mandou que esperasse um instante. Virou-se para um oficial que estava a seu lado e disse, como se reatasse uma explicação:

– Como ia dizendo, o senhor fica avisado: não concedo mais honras de Coronel do Exército a ninguém.

O oficial, espantado, sem entender, gaguejou um tímido “sim, senhor”. E Deodoro prosseguiu:

– Quanta a estradas de ferro, ouviu?

– Sim, senhor.

– Só darei concessão para uma estrada que parta do Inferno e vá terminar na casa da mãe de quem a pedir. Ouviu?

– Sim, senhor.

– Agora, pode retirar-se.

O oficial fez continência, caiu fora sem entender coisa alguma, e o engenheiro desistiu…

SEM DEVER MAIS NADA

Um bajulador interesseiro, ofertou a Deodoro da Fonseca o seu retrato, em rica moldura. Dias depois, pediu-lhe emprego de primeira, verdadeira sinecura. Deodoro explicou que não podia nomeá-lo. E o adulador:

– É que V. Exª não se lembra de mim. Eu sou aquele que lhe ofereceu o seu retrato…

Deodoro, daquela vez, não perdeu a calma. Meteu a mão no boldo e entregou 70 mil réis ao puxa-saco. Este relutou, mas o Marechal insistiu e ainda o obrigou a assinar recibo!…

CHOCOLATE

Quando José de Alencar era ainda criança, reuniam-se, secretamente, em casa de seu pai, no Rio, os políticos do Clube Maiorista, que preparavam a revolução parlamentar da Maioridade. As mucamas, a servir chocolate com bolinhos e manuês, entravam e saíam da sala secreta. E o menino José de Alencar, ao ver as bandejas vazias:

– Qual! O que estes homens querem é chocolate!…

JUSTIÇA SUMÁRIA

Um juiz do século XVII não tinha mais do que uma fórmula para os processos criminais.

Se o prisioneiro era velho, dizia:

– Enforquem-no, enforquem-no, que já deve ter feito outras.

Se o prisioneiro era jovem:

– Enforquem-no, enforquem-no: ou ele fará outras.

ASSASSINO E PUXA-SACO

Numa fazenda do sertão nordestino, um capanga acordou outro:

– Zé, acorda. Acorda, Zé.

 O outro abriu os olhos, espreguiçando-se.

– Acorda, Zé, porque o doutor mandou que você matasse o Miguel, às 6 horas.

O outro, bocejando:

– Quem é o Miguel?

– Aquele da venda.

– Um baixinho?

– Sim.

– Moreno.

– Sim.

– Que fica sempre atrás da balança?

– Esse mesmo.

E Zé, depois de bocejar de novo, e de esticar os braços:

– Hum! Já estou com uma raiva dele, danada!…