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HUMOR NEGRO

Em certos lugares, os criminosos que iam ser executados tinham o direito de vender o corpo a qualquer cirurgião, e servirem-se do dinheiro que lhes provinha de tal venda para se embebedarem e fazerem toda a sorte de deboche. Um desses sujeitinhos condenado por um crime atroz, mandou chamar o cirurgião, e depois de ter regateado com ele muito tempo acerca do preço, vendeu-lhe o corpo.

Apenas feito o contrato, e passado o dinheiro, o criminoso desatou a rir como um perdido, o que foi visto com surpresa pelo cirurgião, que lhe perguntou, que motivo o obrigava a tantas e tamanhas gargalhadas?

– É por te haver apanhado; – respondeu o criminoso – tu compraste o corpo cuidando que eu devia ser enforcado, enquanto que a minha sentença é de ser queimado vivo.

BOA RESPOSTA

Um príncipe gracejava com um de seus cortesãos que o servira em muitas embaixadas, e lhe disse, entre outras coisas, que ele se assemelhava a um boi.

 – Eu não sei a quem me assemelho, – lhe respondeu o cortesão – mas sei que tenho tido a honra de vos representar em muitas ocasiões.

TALHERES INSUFICIENTES

Um rico proprietário desceu certa manhã ao chiqueiro de sua propriedade, onde vários porcos grunhiam de maneira exagerada.

Acercou-se deles e viu que estavam disputando os restos da comida, entre os quais reluzia uma colher de prata, que se achava naquele lugar por um descuido da cozinheira.

– Não haveriam de grunhir – exclamou ele sorrindo – se só tem uma colher para todos?

ÚNICA COISA NOVA

Um alfaiate remendava um velho e puído casaco, quando entrou um vizinho que o saudou:

– Salve, Sr. Camilo! O que há de novo?

E o alfaiate, prosseguindo em sua tarefa:

– A linha.

HERÓI MILITAR

Fazendo notar um soldado que recém retornara da Guerra do Paraguai, que em toda a campanha não havia sofrido um só ferimento; apoiava suas razões com estas provas:

– Quando desembarcamos em Curupaiti eu fui o primeiro; quando sitiamos a praça eu fui o primeiro, e quando tomamos a fortaleza eu fui o primeiro.

– Porém, tenha vossa mercê a bondade, – disse um dos que o ouviam – de dizer-me em que vossa mercê foi o primeiro?

– Ora – respondeu – fui o primeiro sempre a correr; pois senão logo não haveria tempo.

AS MAIS PROCURADAS

Achando-se certa cortesã, bastante favorecida pela sorte para dar-se já os ares de proprietária, conversando na mesa redonda de um estabelecimento de banhos medicinais, com o médico que o dirige, disse-lhe:

– Não, por mais que digais, doutor, não poderei compreender nunca como umas águas de tão escassa virtude atraem tanta concorrência.

– Em verdade, senhora, – respondeu o aludido – a coisa não pode ser mais simples. Sucede com as águas o mesmo que com as mulheres: as que tem menos virtudes são quase sempre as mais procuradas.