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COISA FÁCIL

Um provinciano chegado de pouco à Corte procurava a casa do seu irmão, de cujo endereço ele só sabia ficar perto do Presídio. Não conhecendo o Rio de Janeiro, perguntou a um estudante como fazia para ir até lá.

– Não tem nada que errar; – lhe respondeu este – em chegando àquela rua, que é a dos ourives do ouro (logo se conhece pelas tabuletas), quebre um vidro da primeira, pegue o que encontrar, e em menos de cinco minutos estará no Presídio.

BELA NARIGUDA

– Que mulher tão interessante! Que olhar tão expressivo! Que boca tão graciosa! Que fisionomia tão distinta! É uma pena que o nariz não corresponda ao mais: é um nariz “comum”.

– Diga “como dois” que é mais exato.

QUESTÃO DE TRATAMENTO

Um pretendente, muito enfronhado em fidalguia, tratava por senhoria o primeiro-ministro Pedro Vieira da Silva, entendendo que por este meio conseguiria mais depressa o seu despacho. Mas, vendo frustradas as suas esperanças, foi um dia a sua casa, e tratou-o por mercê.

O ministro, que percebeu a sua intenção de vexá-lo, chamou um criado, a quem deu um recado para certa pessoa; querendo, porém, fazer crer que o criado não o entendera, ordenou-lhe que repetisse o recado. O criado, obedecendo disse:

Vossa mercê mandou-me a casa do Sr. Fulano, etc.

Voltando-se o ministro então para o cavalheiro, disse-lhe:

– Quando vossa mercê me tratava por senhoria, falava como pretendente; agora fala-me como me falam os meus criados.

PROMOÇÃO À VISTA

– Agora lá o cabo de esquadra: – dizia o capelão do regimento, interrogando a uma roda de soldados sobre pontos de doutrina – quantas são as pessoas da Santíssima Trindade?

– Três para servir à vossa reverendíssima.

– Como se chamam?

– Lá isso é que eu nunca ouvi nomear; o que eu sei, e estes também sabem, é que um é pai, outro filho, e o outro Espírito Santo.

– O pai é Deus?

– Tão certo como ser eu cabo da 7ª Companhia.

– O filho é Deus?

– Lá esse por ora ainda não; mas deixe morrer o pai, que ele subirá de posto.

DOIS FIDALGOS RICOS

Fora D. Luiz de Menezes nomeado governador da cidade de Tanger. Estando tudo prestes para o embarque, e já no barulho do bota-fora, roubaram ao fidalgo o serviço de prata do seu uso. Começaram as conjeturas sobre quem seria o autor do roubo, e recaiu a suspeita sobre um criado de outro fidalgo, D. Thomaz Jordão de Noronha.

Este, sabendo o sucedido, escreveu a D. Luiz dando lhe os sentimentos por tão triste acontecimento, e terminava assim: “Por mui considerável que fosse o dano resultante deste sucesso, também dele se segue um bem, que nos deve lisonjear a ambos nós; e vem a ser – o saber-se daqui em diante que V. Exª tinha prata, e eu um criado”

SEM ESCOLHA

Um conde mandou chamar uma manhã o seu escudeiro e lhe disse:

– Tu és fiel, tens muito zelo pelas minhas coisas, e, em resumo, só tenho a lisonjear-me dos teus serviços… Mas estás despedido.

– E por que, senhor Conde?

– Porque apesar do nosso ajuste, tu te embebedas nos mesmos dias que eu.

– Então eu tenho alguma culpa disso? Vossa Excelência embebeda-se todos os dias!