Arquivo da Categoria ‘De 1500 a 1600’

AZAR DO FALECIDO

Estando um homem à morte, deixou mandado ao seu filho único, que vendesse três falcões que tinham grande valor; e mandou que do valor de um mandasse pagar as dívidas que tinha, do que valesse o outro fizesse bem por sua alma, e o terceiro fosse para ele. Morto o pai, Dalí há poucos dias foi-se um deles que ele não pode mais capturar, e disse:

– Este foi pela alma do meu pai.

GIL VICENTE CÔMICO

No teatro de Gil Vicente (1465 – 1536) há certas anedotas, como a do homem que, na obscuridade noturna, se defendeu de um assaltante empunhando uma sardinha, que o meliante julgou ser um punhal.

No “Auto da Índia”, de 1509, apresenta cenas engraçadas como esta:  

A criada entra na casa da ama, cujo marido está prestes a embarcar para as Índias, e a encontra em prantos. Pergunta-lhe o motivo das lágrimas, supondo que seja pelo fato do amo ir viajar. A patroa, porém, responde-lhe com desprezo e grosseria, chamando a criada de “tonta e mal amada”.  Afinal a criada descobre que a ama desespera-se porque o marido… tinha desistido da viagem.

 

DESTINO CRUEL

No ano de 1550 a falta de mulheres brancas, na Bahia, era tão sensível que a rainha dona Catarina de Portugal enviou várias moças órfãs, para que se casassem com os principais homens da terra.

Sua Majestade, contudo, teve que dizer às freiras que ordenassem às suas pupilas que fossem ser grandes senhoras no Brasil – “sob pena de excomunhão”, se necessário! Pois a maioria delas preferia destino mais brando: cuidar de leprosos, cultivar a terra ou faxinar conventos e igrejas; desde que permanecendo em Portugal. 

E A PRIMEIRA EUROPÉIA?

Escreveu Monteiro Lobato“Nós homens sabemos, com certeza de pedra e cal, qual o antepassado branco que primeiro pisou estas plagas. Era um Pero, ou Pedro… a não ser que fosse um Vicente, o Yanez Pinzon. Mas nossas gentis contrárias em sexo ignoram em absoluto qual a vovó inicial que veio diluir a brancura de pele no pigmento dos Gês e Nu-Aruaks, (…) Seria portuguesa? Seria francesa?

Jean de Lery conta que em seu navio, além do reforço masculino mandado por Coligny ao senhor Nicolau de Villegaignon, vinham cinco francesas. Seriam Rosemonde, Yvette, Colette, Suzanne e Louise as primeiras arianas que respiraram o ar brasílico?”

As cinco francesas que vieram em 1556, chegaram num tempo em que tudo eram araras e papagaios por cima das frondes e apetites canibalescos por baixo. Nada indicava o surto da nova fauna cuja semente Tomé de Sousa fez vir consigo.

LESA-MAJESTADE

Alguém aproximar-se de um rei não era bem assim. Implicava em atender antes a um cerimonial. Depois – se o rei assim entendesse – teria que ser convidado pelo monarca a aproximar-se. Como bem verificou D. Diogo d’Almeida, Prior do Crato.

Certo dia, estando El-rei D. João II sentado junto de um bufete, com o rosto virado para a parede, D. Diogo passou por trás dissimuladamente, sem tirar a gorra, …persuadido de que El-rei o não via.

– Afastai-vos lá – exclamou, em tom de galhofa, o soberano, que lhe percebera a sombra na parede – não sabeis que os reis não têm direito e avesso?!…

MAU COMEÇO?

Segundo alguns, uma terra explorada inicialmente por piratas e povoada por criminosos degredados, pareceria destinada a patifarias, como as que têm sido freqüentes na política brasileira até nossos dias. E o fato de o descobrimento ter ocorrido no dia 22 de abril – dois meses depois do Carnaval! – também não contribuiu muito como prenúncio de seriedade…