Arquivo da Categoria ‘De 1500 a 1600’

ALÉM DE “BARBEIRO”, BEBUM!

O brasileiro desde o começo demonstrou talento para criar apelidos jocosos para os poderosos do dia. O navegador português João Dias de Solis, que em 1515 chegou até ao atual estado de Santa Catarina, foi apelidado de “Bojes de Bagaço”. “Bojes”, por ser navegador medíocre; já que “bojar” significa navegar rente à costa, próprio de quem não sabe se orientar em mar alto ; e “de Bagaço”, por ser muito amigo da garrafa.

DESCOBRIDOR DE QUE, MESMO?

Portugal, na época, não deu grande importância à descoberta do Brasil. Tanto assim que o epitáfio de Pedro Álvares Cabral, na Igreja da Graça, em Santarém, diz apenas isto (atualizada a linguagem): Aqui jaz Pedro Álvares Cabral; e Isabel de Castro sua mulher, cuja é esta capela, e de todos seus herdeiros; aquela depois da morte de seu marido foi camareira mor da Infanta dona Maria filha Del-rei D. João, nosso senhor e terceiro desse nome.

Sobre o feito de Cabral, nada! Aos contemporâneos, aos herdeiros de seu nome e de sua casa, era maior honra ter sido a mulher criada do Paço, camareira da filha de D. João III, do que o marido haver descoberto o Brasil!…

TORTO MAS GOSTOSO

Jerônimo de Albuquerque, povoador de Pernambuco, tendo em luta com os indígenas perdido um olho, atingido por flecha, merecia ter recebido um epíteto heróico; mas teve o apelido de “o Torto” (embora o poeta Bento Teixeira, num rasgo de puxa-saquismo o viesse a chamar mais tarde de “Branco Cisne Venerando”).

Devido a sua enorme descendência, com mulheres brancas e índias, o povo, irreverente como ele só, o batizou de “Adão Pernambucano”, e o acusou de pretender povoar Pernambuco sozinho…

INSTRUÇÕES PRECISAS

Sobre o tipo de homens que compunham as tripulações lusas na época dos descobrimentos, basta dizer que já em 1505, estavam a ser recrutadas para servirem na carreira, tripulações completamente inexperientes, como exemplifica a anedota contada pelo cronista Fernão Lopes de Castanheda, acerca dos marinheiros rústicos de João Homem:

“Esses campônios não sabiam distinguir bombordo de estibordo ao largarem do Tejo, e só conseguiram quando foi atada uma réstia de cebolas num dos lados do navio e uma réstia de alhos no outro.

– Agora – disse ele ao piloto – diz-lhes que virem o leme na direção das cebolas ou na dos alhos, e eles depressa compreenderão.”

NA LÍNGUA DO POVO

O brasileiro desde o começo demonstrou talento para criar apelidos jocosos para os poderosos do dia. .

O navegador português João Dias de Solis, que em 1515 chegou até ao atual estado de Santa Catarina, recebeu o apodo de “Bojes de Bagaço”. “Bojes”, por ser navegador medíocre; já que “bojar” significa navegar rente à costa, próprio de quem não sabe se orientar em mar alto (em termos atuais e automobilísticos: um “barbeiro”); e “de Bagaço”, por ser muito amigo da garrafa.


Um dos capitães da frota de Cabral, Pedro de Ataíde recebeu a interessante alcunha de “o Inferno”; é de se presumir que se seus homens colocaram-lhe tal epíteto, não é porque fosse ele dos mais gentis e agradáveis…  


NO BOM SENTIDO

Estando Dom João I a beijocar uma criada, num desvão de escada do seu real castelo, surpreendeu-o nessa troça a rainha Dona Filipa e o interpelou:

            – Que pouca vergonha é essa?!

            Pelo que El-rei, não achando outra desculpa, respondeu:

            – Não é nada, senhora; não foi por mal; foi por bem…