Arquivo da Categoria ‘De 1500 a 1600’

MORRER SIM

Saindo uma tarde El-Rei D. João III do Convento da Graça, fazia parte da comitiva real D. Álvaro de Castro, governador de Lisboa. Estava o dia frigidíssimo e de muito vento e chuva; e como todos viessem descobertos, exclamou D. Álvaro de Castro, voltando-se para o Monarca:

            – Senhor, o bom português é obrigado a morrer pelo seu Rei, mas não vejo porque se há pegar um resfriado – e ao dizer isto, cobriu-se sem mais cerimônia.

PUXA SACO…

Certo João Fogaça, dirigindo-se uma ocasião a falar a El-Rei D. João II, tropeçou na ponta de uma esteira; riu-se El-Rei e a Rainha; vira-se ele de repente e diz-lhes: “Querem que eu tropece outra vez?”

COMO HOJE

Por volta de 1552 conversava o rei D. João II nos seus Paços de Ribeira com alguns cortesãos quando o relógio da torre da Capela deu onze horas.

            – Onze horas! Já! Não pode ser! – Exclamou o monarca – acrescentando logo em seguida – Que grande mentiroso saiu o nosso relógio!

            Respondeu D. Pedro de Almeida, Alcaide-mor de Torres Novas:

            – Quer V. Alteza que ele fale a verdade, meu Senhor? Pois o mande afastar do Paço.

OBRIGADO POR NÃO ENROLAR

A El-rei D. João II chegou um pretendente, pedindo certo emprego.

– Já foi dado a outro. – disse o rei secamente.

Mas o pretendente lhe agradeceu muito, beijou-lhe a mão e despediu-se.

Desconfiou o rei que ele não entendera a negativa, e disse-lhe:

– Vinde cá: de que me agradecestes?

– Pelo favor que Vossa Alteza acaba de me fazer.

– Que favor vos fiz eu?

– Senhor, – disse o homem – o de negar-me de uma vez, sem me mandar a ministros; com isso me poupou muita canseira e aborrecimento, e dinheiro, que eu havia de gastar sem proveito!

O REI NÃO ERA BOBO

Um homem gostava  muito de beber vinho. Mas, como o rei D. João II não bebia, todos procuravam seguir-lhe o exemplo para agradá-lo. E esse homem, às vezes excedia-se no vinho e ficava alterado, o que desagradava ao rei.

Um dia, em que o tal homem tinha bebido vinho, o rei mandou chamá-lo. E ele, para não cheirar a vinho, comeu folhas de loureiro, que exalavam forte cheiro. Mas o rei, ouvindo-o falar, percebeu a esperteza, e lhe disse:

– Fulano, debaixo de todo esse louro, que tal é o vinho?

MEDROSO

O governador-geral do Brasil, Francisco de Sousa, era excessivamente prudente. Antes de tomar qualquer decisão administrativa pesava sempre tudo muito bem; tinha cuidados imensos para não ferir suscetibilidades; era cheio de hesitações, de cautelas, de rodeios… Provavelmente imaginava que a posteridade o teria como “O Cauteloso”, “O Prudente”, “O judicioso”, ou “O Sábio”…

Mas o Zé-Povinho colonial desdenhosamente o batizou “O Das Manhas”.