Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’

Certo abade pregava uma moral tão severa, que deixava espantado todo seu auditório. Porém sua mãe, para tranqüilizá-los, lhes dizia:

– Não façais caso do que ele fala; ainda não tinha seis anos, quando já mentia muitíssimo.

Iam uns caçadores atrás de uma onça, e o animal fugindo escondeu-se nas imediações de um moinho. Atirou na fera um deles, e matou a mulher do moleiro. Ficou o homem desconsoladíssimo, à beira do desespero; porém o moleiro o aliviou dizendo-lhe:

– Não vos dai cuidado, meu senhor; porque rigorosamente haveis morto à besta mais má de todo o país.

Um homem, muito pouco devoto, estava dormindo na comédia, e o despertaram dizendo-lhe:

– Isto aqui é o teatro; vos pareceis que estais no sermão?

Estando enfermo um duque, mandaram chamar a um médico; porém como este fidalgo fosse avesso à medicina, disse ele a um seu criado:

– Adverte ao médico que não posso vê-lo, porque não me sinto bem; que ele deixe sua visita para outra ocasião.

Achando-se um monarca muito nas últimas de sua vida, ouviu que rogavam a Deus pela saúde de seu corpo e de sua alma, e disse aos suplicantes:

– Pedis demasiado de uma vez; rogais apenas pela saúde do corpo.

Dizia um pregador medíocre a certo jesuíta, em fins da Quaresma:

– Não sei como pude resistir à fadiga de pregar diariamente. Ainda anteontem, durou a minha Paixão duas horas e meia; contudo, me sinto bem. Não vos admirais de minha resistência?

Respondeu o jesuíta:

– Sim, padre; entretanto admiro mais a resistência de vossos ouvintes…