Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’
MALA POSTAL
Havendo um marido transportando a mala postal, passou a noite com sua mulher muito sossegadamente, e depois disse a ela:
– Não o estranhes, porque estou cansado ao extremo.
Naquela manhã mesmo ele viu no pátio de sua casa um galo que estava muito quieto junto às galinhas, e disse à sua esposa…
– Esse galo não vale nada, é melhor matá-lo.
Porém ela lhe replicou:
– Não o condenes tão precipitadamente: quem sabe não terá transportado a mala postal?
PAPEL IDEAL
Escrevia um ator a um amigo seu: “Em todos os papéis de galã, de traidor, de barbado, de cômico; todos me vaiavam. Porém agora eu pus em cena o Tartufo e quando digo aqueles versos:
Porque falando francamente
Eu não sirvo para nada.
há um entusiasmo, e um frenesi no público, que entre palmas e abraços me fazem repetir duas a três vezes.”
A SOGRA DE SÃO PEDRO
O Padre Antônio Vieira referindo-se ao caso, relatado pelo Evangelista São Lucas, da sogra de São Pedro, que jazia com grandes febres, e, entretanto não a curava o genro:
– Pois se S. Pedro passando pelas ruas sarava os enfermos estranhos, bastando só que os tocasse com a sua sombra, a enferma que tinha dentro de casa, tocando-lhe tão de perto no parentesco, por que a não sarava?
E dava a explicação o insigne jesuíta:
– Só por ser sogra! Uma sogra talvez é melhor estar doente, que sã! Porque doente, a doença a tem quieta a um canto da casa, e sã, rara é a que se contente com menos que todos os quatro cantos dela…
COMO HOJE…
Disse o Padre Antônio Vieira no discursou do “Sermão de São Pedro”, a respeito do governo da época:
– A peste do governo é a irresolução. Está parado o que havia de correr; está suspenso o que havia de voar, porque não atamos nem desatamos.
POR RECOMENDAÇÃO
Certo cavalheiro, criticado por ser muito dado à bebida, justificava:
– Hipócrates dizia que para conservar a saúde, convém embriagar-se uma vez ao mês, e como não estou certo de saber cumprir exatamente a sua recomendação, eu ensaio três vezes por semana.
SÓ SE FOR ASSIM
Um médico teimoso estava dizendo numa casa que acabara de curar a certo enfermo. Entrou naquele instante um amigo de visita e disse que o enfermo havia morrido.
– Não pode ser! – exclamou o médico.
– Se acabo de vê-lo agora…
– Pois bem: mas então morreu curado.