Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’
MUITO EM POUCAS PALAVRAS
Certo marquês tinha duas filhas, uma gorda e uma magra. A marquesa, sua mulher, lhe pediu, com instância que escrevesse a ambas. Cedendo à sua importunação o marquês, tomou a pena e escreveu à primeira: filha minha, emagreça; e à segunda: filha minha, engorde; e não escreveu mais nada. Vendo a marquesa que encerrava tão rapidamente as cartas, lhe disse: Jesus, e que curtas! Porém o marquês lhe respondeu: bastante têm que fazer com o que as encarrego.
DE ONDE TIRAR?
No Brasil Colônia os devedores firmaram a doutrina do calote, nesta breve sentença transmitida de pais a filhos: “Onde não há, El-rei perde”. Queria isto dizer que, quando a Real Fazenda mandava apertar o crânio – o crânio e a bolsa – aos contribuintes em atraso, nem cadeia, nem pelourinho, nem açoite, nem degredo, nada disso fazia entrar para o tesouro Del-rei os impostos sonegados.
SOBROU
Pregava certo cura num povoado e equivocando-se, disse que Jesus havia saciado milagrosamente a fome de cinco pessoas com cinco mil pães e cinco mil peixes.
Um lavrador que o escutava ao pé do púlpito, disse em alta voz e com escárnio:
– Isso eu também faço.
No ano seguinte o cura repetiu o sermão; porém teve cuidado, e disse que o milagre havia consistido de saciar a fome de cinco mil pessoas com apenas cinco pães e cinco peixes; e voltando-se para o rústico que estava perto, perguntou-lhe:
– E isso tu farias?
Replicou o rústico com vivacidade:
– Claro, com o que sobrou do ano passado.
LÓGICA
Estava um gotoso almoçando uma enorme fatia de presunto. Entra seu médico, olha o prato, e diz:
– Que fazeis vós, homem dos diabos! Não sabeis que o presunto faz muito mal para a gota?
– Mal para ela? – perguntou o gotoso. E, dirigindo-se ao criado: – Rapaz! Traga-me outra fatia: quero ver se me curo de vez.
PROVA DE QUE TINHA
Numa batalha, um valente soldado português foi ferido na cabeça, por um tiro de mosquetão. Ao prestarem-lhe os primeiros socorros os médicos lhe disseram que a ferida era perigosa, pois lhe apareciam os miolos, e ele rindo replicou:
– Pois colham um pouquinho e enviem ao meu sogro, que vive dizendo que eu não tenho miolos.
COM A ESCASSEZ DE LENHA
Estando em Amsterdam o poeta judeu-português Antônio Enriquez Gomez, acercou-se dele um seu conhecido e lhe disse:
– Senhor Enriquez, a Inquisição de Sevilha queimou a vossa efígie, e eu vi.
– Pois se a tivessem dado a mim, eu mesmo a teria queimado! – respondeu com uma grande risada, o bizarro judaizante.