Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’
BAIXAR
Era uma época de crise alimentícia.
A vizinha do primeiro andar trabalhava à janela. O padeiro a observava desde o pátio, e perguntou-lhe:
– Vizinha, quando vossa mercê baixará esses olhinhos?
– Quando vossa mercê baixar o pãozinho.
PARA ALGO SERVIAM
Porfiavam um arrieiro e um estalajadeiro sobre uns fardos que faltaram na posada, e disse aquele:
– Por mais que te desagrade, terás que dar-me os dois fardos.
– Eu te darei duas guampas! – replicou o outro.
– Eu já imaginava que para algo tu as usava. – exclamou o arrieiro.
REAL VALOR DO OURO
Relata Humberto de Campos que um filósofo do século XVII, atribuía o valor do ouro apenas à sua escassez, já que ele não tem excepcionais propriedades como material. Dizia ele:
– O ouro só tem valor porque é menos abundante do que a lama. Se a lama fosse mais rara do que o ouro, este seria calcado aos pés, passando a lama a ser guardada nos cofres!
AZEITONAS
Convidou-se um sujeito a comer na casa de um amigo, e este que andava escasso de dinheiro, serviu-lhe umas azeitonas.
– Homem, – disse o convidado – na minha terra, isto são as últimas coisas que se põe na mesa.
E o outro lhe respondeu:
– Aqui também.
CAUSA DA FALTA DE CRIADOS
Farto de ver muitos pais de candição modesta gastarem tudo o que tinham, para darem às filhas o estado de Freiras e aos filhos o de Padres, em vez de tornarem-se mães e pais de família; o Arcebispo de Braga, D. José de Meneses, certa vez respondeu a um comerciante, que queria meter a filha num convento:
– Vossa mercê tem caixeiro?
– Sim, excelência.
– Então case-a com ele!
TESOUREIRO DE ARAQUE
Manuel Faria e Sousa (1590-1642), criticava a tendência que se verificava, na sua época, de os artesãos preferirem que seus filhos estudassem, a seguirem as suas profissões – com prejuízos para a agricultura, a indústria e o comércio. Havia um ministro da Corte, filho do maior mestre de fazer tesouras da vila de Guimarães, a que chamavam o “filho do tesoureiro”. “Não do Tesouro Real, mas das tesouras de Guimarães”- comenta desdenhoso, Faria e Silva. “Só serviu de fazer maior o número de Ministros, e talvez seria admirável artesão se seguisse o ofício do pai”!