Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’

BOA RESPOSTA

Um príncipe gracejava com um de seus cortesãos que o servira em muitas embaixadas, e lhe disse, entre outras coisas, que ele se assemelhava a um boi.

 – Eu não sei a quem me assemelho, – lhe respondeu o cortesão – mas sei que tenho tido a honra de vos representar em muitas ocasiões.

A JUMENTA DE BALAÃO

Estando um mestre a explicar o Pentateuco aos discípulos, em que se fala de Balaão, que ia na burra que falou, o dito mestre era um pouco colérico, um deles se pôs a rir; o mestre ralhou, e enfadou-se, ameaçou, e disse que uma jumenta podia falar, sobretudo quando tinha diante um anjo com a espada nua.

O discípulo riu mais, e ele picado, lhe deu um grande coice. O discípulo, chorando, diz:

– Eu entendo que o jumento de Balaão falava, mas não que dava coices.

HÁBITOS

Um ladrão de jogo, jogando com um antigo capitão de cavalaria, querendo furtar cartas, usava da indústria de espevitar a luz com uma mão, e com a outra furtar a carta. O capitão que observou isto por duas, ou três vezes, lhe disse:

– Eu noto, senhor, que cada vez que vós atiçais a vela, eu tenho mau jogo; ser-vos-ei muito obrigado, se vos absterdes de ter esse trabalho; porque eu estimo mais ver menos claro, e ver melhor jogo.

O rapinante se absteve por um pouco. Passado algum tempo, estando uma grande soma para se decidir, e tendo o ladrão mau jogo, avançou as tesouras para esmurrar a vela, e diz:

– Perdoai-me, senhor, que é um antigo costume que tenho, de que me não posso abster.

– E eu, – diz o militar, apanhando com o furto na mão e agarrando-o – também tenho o costume de esmurrar os que me roubam no jogo.

SAÍDA PRECIPITADA

A mútua implicância de portugueses e espanhóis, deu origem um sem número de anedotas através dos tempos, de lado a lado. Fazendo troça do fato dos portugueses serem sumamente aficionados  à guitarra, Monsenhor Menage refere que havendo perdido os portugueses uma batalha, foram encontradas no campo, que desocuparam com a fuga, catorze mil guitarras.

VERDADE DITA GRACEJANDO

A uma janela dos Paços Reais, das que olhavam para o Terreiro do Paço, conversavam os marqueses de Fronteira e Távora, que ambos aspiravam o valimento do rei D. Pedro II.

Caminhando para eles D. Pedro e pondo-lhes as mãos sobre os ombros, lhes perguntou:

– Em que discorrem os marqueses?

O de Távora, que era pronto e vivo, lhe respondeu:

– Ambos, Senhor, estamos vendo como havemos de enganar um ao outro, e também à Vossa Majestade.

O MÁXIMO DE ROUPA

Certo rei, andando de carruagem num dia de inverno rigoroso, viu um provinciano caminhando muito sossegadamente, vestido com roupa de verão. O Monarca mandou o cocheiro parar, e perguntou ao tal sujeito:

– Como não tens frio com tão pouco pano? Quando eu, em coche fechado, carregado de abrigos e cobertores, ainda assim estou gelado?

– Senhor, – respondeu o homem – se Vossa Majestade fizesse o que eu faço, não teria frio. Eu levo sobre mim toda a roupa que tenho; imite-me Vossa Majestade e sentirá calor.