Arquivo da Categoria ‘De 1600 a 1700’

DIGA-ME MAL

O poeta satírico D. Tomás de Noronha ( ? – 1651), ironizando de um médico incompetente, que em tudo o que prognosticava errava, escreveu:

                        “Ó praza a Deus que este tal

                        Diga de mim que estou mal

                        Para eu cuidar que estou bem.”

AINDA BEM

Os parentes tinham internado um doutor num manicômio, por falta de juízo. Depois de alguns anos, ele escreveu ao arcebispo pedindo-lhe que o tirasse dali. Um capelão foi encarregado de analisar o pedido. Conversou com o interno e o achou perfeitamente são.

Embora os médicos insistissem que ele não estava curado, concordaram em dar alta ao doutor, por se tratar de pedido do arcebispo.

Na saída, o homem quis se despedir dos internos, e o capelão o acompanhou.  Um deles, indignado porque estariam soltando um louco, disse que, sendo ele Júpiter Tonante, senhor dos raios, providenciaria três anos sem chuvas. O padre e o doutor compadeceram-se do pobre homem, mas partiram.

  Depois que já tinham se afastado bastante do hospício, o doutor agarrou pelo braço o sacerdote, e disse-lhe:

– Não se preocupe! Se Júpiter se negar a enviar chuvas; eu, como Netuno, pai das águas; farei chover sempre que necessário!

CASA DA MÃE JOANA

No Brasil do século XVII, a injustiça e a ganância andavam à solta. Faziam-se fortunas com tal rapidez que um bispo de Leiria escreveu em uma sentença: “Vá degredado para o Brasil e voltará rico e honrado”.

Outros faziam humor com a própria ganância, como o aguadeiro português que, escrevendo para o Reino, dizia  “A terra é boa, mas o povo é besta. A água é dele, mas nos lha vendemos”.

SABICHONAS

D. Francisco Manuel de Mello, era contrário às mulheres sabichonas. Mulheres doutoras, autoras e compositoras dava-as ele ao diabo, com a explicação:

–  É triste coisa, que estejais com vossa mulher na cama, na mesa, ou na casa, e andem lá pelas lojas mil barbados perguntando por ela.

INGRATO

Um barbeiro desastrado enchia de curativos os clientes que ele cortava fazendo-lhes a barba. Quando alguém reclamava, ele respondia:

–  Tu te irritas comigo sem razão, pois num barbear que te custa uma moeda,  recebes quatro moedas em curativos!

MANEIRA DE DIZER

Um estudante boêmio, não achando outra maneira de pagar as suas contas, vendeu todos os seus livros. Depois escreveu para o seu pai, da seguinte forma:

– Felicite-me, meu pai; eu já estou vivendo da venda dos meus livros.