Arquivo da Categoria ‘De 1700 a 1800’

DA VIDA MANSA

Os cariocas de seu tempo, segundo relata o senhor J. M. P. S. em seu livro, “são inimigos do trabalho que muitos poucos se vê aprenderem ofício e menos aplicados ao comércio (…) São, contudo, ativos e aptos para tudo quanto se aplicam, que é quase geral ser para doutores em medicina e leis, frades, clérigos e soldados. As fêmeas tem muito juízo,” – diz ele – “por que preferem o casar com filho de Portugal, sem ter vintém, ao do seu compatriota com milhões (…)”

PATUÁ BRASILEIRO

O referido senhor J. M. P. S. critica a maneira como os cariocas falavam: “O vício na fala é nos nomes seguintes: Para dizerem milho dizem mio; para melhor dizem mió; para pior pió; para telha dizem teia; para telhado dizem teiado; para melhorar dizem miorá, etc… etc., etc., etc.”

SALÃO IMPORTADO

Um indivíduo que a tudo criticava, com a arrogância que conferem a tolice e o dinheiro, achava defeitos em certa casa, porque haviam feito um salão octogonal.

Disse o dono da casa que aquele salão fora construído à italiana, e ele replicou:

– Assim que o vi constatei que ele havia sido mandado construir em país estrangeiro.

ESOPO

Num julgamento, um advogado muito feio, mas brilhante, ia falar ao tribunal, quando o seu oponente exclamou, fazendo rir os presentes:

– Atenção, que vai falar o Esopo da Corte!

O advogado o olhou, e respondeu:

– De fato, Esopo fazia os animais falarem!…

GRANDE SEDE

Perguntaram a um inútil que passava os dias nas bodegas em deboches e beberagens: se Deus te desse a escolher três coisas neste mundo, o que pedirias?

O borracho empinou a cabeça, e com viva mirada e grato sorriso, disse:

– Lhe pediria todo o vinho do mundo; todo, todo.

– E depois?

– Depois, – disse o imprestável sujeito – depois, todas as mulheres do mundo.

– E depois?

– Depois… – disse ele, coçando a cabeça e olhando para o teto como se buscasse algo – …depois, vamos, mais um pouquinho de vinho.

TAMBÉM O CONTRÁRIO

Certo clérigo perdeu muitas boas rendas eclesiásticas por ser incapaz de portar-se condignamente, devido ao seu pouco siso.

Foi um dia com um amigo a uma exposição, onde se encontrava à venda um magnífico quadro do Juízo Final, e vendo o padre que, pelo seu preço muito elevado não podia comprá-lo, exclamou:  

– Oh! Que Juízo eu perco por falta de dinheiro!

E replicou o outro:

– Bem poderias dizer: Oh! Que dinheiro eu perco por falta de juízo!