Arquivo da Categoria ‘De 1700 a 1800’

FALTA DE DINHEIRO CRÔNICA

Um infeliz, enfermo em conseqüência da miséria de que padecia, chamou a um médico.

O Galeno tomou-lhe o pulso, auscultou-o, e lhe disse:

– Vossa mercê necessita mais do que tudo de cordiais, peitorais…

– Oh não! – replicou o enfermo –  Capitais, capitais!…

CONTINUA O MESMO

O homem bate à porta de uma casa, e pergunta à criada que vem atender:

– Vive aqui o senhor Carneiro?

– Não senhor; porém aqui ao lado mora o senhor Cordeiro. É um homem baixo, trigueiro, encurvado…

– É ele mesmo! Porém como há muitos anos não o tenho visto… Como que então se faz chamar Cordeiro como quando era cadete?… Ora, ora, quer se passar por jovenzinho!

JÁ QUE É ASSIM

Dois senhores conversam numa esquina, quando por eles passa um indivíduo meio maltrapilho, que cumprimenta um dos cavalheiros. Pergunta o outro, depois que o tal sujeito mal vestido se afasta:

– Quem é este homem que anda tão esfarrapado?

– É meu amigo íntimo, um ilustre cantor. Tem uma voz… faz dela o que quer!

– Diga-lhe que faça umas calças novas, de que ele muito necessita.

EXAGERO

Encontrou-se um infeliz com um seu compatriota, e lhe disse:

– Compadre isto vai mal; a pátria corre para a ruína; não há trabalho, não se vende nada.

– Como que não se vende nada? Acabo de vender a minha última camisa.

MANHA

Já tinham dado as doze de uma noite escura. João não havia comido nada e dava-lhe vergonha pedir.

Chegou por fim à casa de um amigo e chamou.

O amigo assomou à janela perguntando:

– Quem é?

– Homem, sou eu… Queres fazer-me o favor de… de atirar-me um alfinete?

– Um alfinete? Com a escuridão da noite não vais vê-lo cair na calçada.

– É verdade… Olhe, para que não se perca, crave-o num pedaço de pão, e arremesse.

CARIOQUISMOS

Um certo senhor J. M. P. S, publicou suas memórias em Portugal, onde descreve a vida na cidade do Rio de Janeiro no século XVIII. Quanto às ruas, diz ele que são muito direitas, exceto a Rua Direita, que é bastante torta. Outras ruas importantes são a Rua da Praia do Peixe (onde não se vende peixe), a do Ouvidor, e a da Quitanda; a da Vila, que não tem casas de moradia, apenas lojas… A Rua Direita chega até a praia, onde há um grande cais de madeira, coberta com um telhado , a que os locais dão o nome de Ponte da Alfândega…

Dentre todas, chama a atenção a rua chamada Soçocusarará, cujo nome deriva de certo homem que ali morou, com tal chaga no traseiro que todos lhe perguntavam: “Sr., o seu c… sarará?”